spoiler visualizarMarcos Conte 23/12/2019
Um misto de sentimentos
Vendo-se em uma situaçăo aparentemente sem soluçăo, Hugo acaba encontrando uma forma extremamente perigosa de ajudar um ente querido que corre risco de vida. Arriscando sua própria vida em pró de outra, Hugo embarca em sua mais ambiciosa e perigosa jornada até a escola de Bruxaria do Norte para obter recursos que ajudarăo em sua missăo suicida pelas profundezas da Floresta Amazônica.
Como fă da série a Arma Escarlate, eu estava completamente sedento por esse volume e tinha grandes expectativas quando a ele, já que o antecessor foi um livro fenomenal e repleto de acontecimentos de tirar o fôlego.
O Dono do Tempo parte um já nos insere direto no momento em que Capí tem de enfrentar as consequęncias de sua escolha de processar o Alto Comissário e seus capangas de tortura. Essa parte do livro é tensa e conseguimos sentir essa tensăo em cada página e capítulo que se segue. Aparentemente a dor de Capí nunca terá um fim.
Gostei muito de todo esse desenvolvimento, porém algo que me incomoda muito e agora está mais escancarado do que nunca, é a essęncia do Italo (Capí). Ele é um ser humano que a todo momento sede as vontades dos outros, está a todo momento tentando năo machucar as pessoas ao seu redor com suas escolhas e atitudes. Ele é capaz de machucar a si mesmo em pró de outra pessoa, apenas para que outra pessoa năo sofra as dores. Italo é um personagem que se preocupa muito com o mundo e fazendo isso, se auto destrói e năo tem amor próprio. Isso ficou extremamente evidente nesse livro e em até certo ponto ficou tedioso. Confesso que encontrei certa dificuldade de lidar com o Capí. Finalmente quando ele "se liberta" atacando as provocaçőes do Anjo, senti que finalmente ele poderia ali começar a rever suas atitudes passivas e começar a tomar controle das situaçőes colocando pra fora o que sentia (năo em forma de agressăo física, mas sim de forma verbal), mas novamente ele cai no marasmo.
Passando entăo todo esse momento tenso ao qual Capí é submetido com o processo, temos o primeiro grande baque do livro, que é a doença que está lentamente ceifando a vida do professor Atlas.
Afastando-se aos poucos de momentos importantes no livro para se tratar, Atlas é questionado a todo momento por Hugo o motivo da sua ausęncia até mesmo do julgamento do processo do Capí, momento importante ao qual a presença do professor faria grande diferença emocional. Atlas, sem querer revelar sua terrível doença, prefere năo discutir com Hugo sobre o assunto e o mesmo o ataca de várias formas covardes, dizendo coisas horrorosas ao professor.
Outra coisa aqui também começou a me irritar e mais pra frente (na resenha da parte 2) eu gostaria de discutir mais, que é o temperamento agressivo do Hugo. Sei que devemos levar em conta sua infância complicada na favela e que tenha moldado seu temperamento dessa forma, mas agredir verbalmente as pessoas só pra mostrar que năo está de acordo com toda aquela situaçăo é errado, ainda mais sem saber o que estava se passando. Essas atitudes do personagem săo extremamente irritantes e ele parece nunca aprender com seus erros.
Depois de todos esses questionamentos e tentativas de esconder o que se passa, a doença que aflige Atlas é revelada e entăo todos ficam sabendo que sua ausęncia eram tentativas de achar alguma coisa que pudesse impedir o avanço da doença.
Essa parte foi extremamente angustiante e ver aos poucos o professor se definhar por conta da esclerose múltipla foi de partir o coraçăo. Quando finalmente Hugo parece ter achado uma forma de cura-lo dessa doença, que até entăo năo há cura, o livro começa a nos levar rumo a escola de Bruxaria do Norte, a tăo esperada Boiuna.
Sabendo da existęncia de uma plantinha, localizada em uma gruta no interior da floresta Amazônica, Hugo ruma em direçăo a escola do Norte em busca de alguns esclarecimentos e ajuda para uma empreitada ao interior da floresta para tentar salvar a vida do professor. Meu entusiasmo para conhecer a escola de bruxaria do Norte era extremamente grande. Achei GENIAL a escola ser um enorme barco que transita por todo o norte buscando os alunos para começarem seus anos letivos. Da mesma forma que achei genial, levei um balde de água fria quando começamos entăo os capítulos que mostram a tăo aguardada escola Boiuna. Foi a partir desse momento que a leitura começou a se arrastar para mim. As explicaçőes sobre a escola começaram a ficar didáticas, longa e entediantes, nem parecia que eu estava mais lendo aquele livro que começou de um jeito frenético. Cheio de diálogos repetitivos em torno do mesmo assunto várias e várias vezes. Cheio de diálogos de liçőes de moral (o que me incomodou bastante, já que liçőes de moral em livros de fantasias săo tiradas a partir da interpretaçăo de acontecimentos e năo de diálogos). É extremamente importante discussőes acerca dos indígenas, acerca da cultura do povo do Norte, porém săo muitas informaçőes colocadas e ficou parecendo mais uma parte de um livro de história. O que me ajudou a finalizar essa última parte foi o Poetinha, o personagem mais interessante apresentado nesse terceiro livro até entăo.
Com seus altos e baixos, essa terceira parte começou bem quente e terminou morna. Aguardando ansiosamente pela parte 2 para saber o que Hugo enfrentará na temida Floresta Amazônica.