José Eduardo 18/02/2023
Criativo
Sob o ponto de vista do ano em que o livro foi escrito, é interessante notar a criatividade do autor de imaginar um mundo em que o governo possui completo controle sobre seus cidadãos e sobre a economia. É dizer, projetou-se como seria a sociedade, fosse ela comunitária, e não individualista. Nisso, assemelham-se esta obra e 1984 - embora, em Orwell, ainda houvesse livre pensamento não derivados de sugestões, apenas moldado por propaganda.
Difícil avaliar a obra sob o olhar contemporâneo.
A própria família, nessa obra, é um valor não só abandonado - tal qual hoje -, como também desprezado, entregue a paternidade ao interesse maior da sociedade, sob o olhar de uma elite que a controla.
Hoje parece lugar comum, mas, há um século, a relação sexual entre os indivíduos, como retratada na obra, deve ter causado no leitor indignação, revolta, ou mesmo asco. O que, aliás, fez-me pensar se o autor se surpreenderia com a atual conformação da sociedade, que por vezes se parece assustadoramente com a do Admirável Mundo Novo, mesmo sem o controle completo da sociedade pelo Estado.
Ainda, qual seria o sentimento de Huxley a respeito da arte contemporânea? Da música, das artes plásticas, do cinema? Instáveis ainda somos, felizmente, mas a beleza e a busca pela perfeição parecem pertencer apenas aos livros de história.
Provada com o tempo a inviabilidade prática do comunismo, a sociedade atual lida com o avanço do Estado do bem-estar social. O livro, portanto, tornou-se apenas um retrato dos riscos à liberdade existentes à época em que produzido. Mas, como toda verdadeira obra de arte, leva-nos a contemplar e admirar o mundo construído pelo autor.