Israel145 27/11/2015Nikolai Gógol talvez seja o autor russo que mais flertou com o fantástico em sua obra. Autor de obras-primas como Tarás Bulba e Almas Mortas, em que retrata desde a vida dos cossacos ao campesinato russo de maneira impecável, Gógol também se aventurou pela seara do fantástico contando “causos” russos com detalhes pra lá de curiosos, onde registrou o fabulário e a imaginação de sua gente em contos divertidos e inesquecíveis, retratando principalmente os costumes da Ucrânia, sua terra natal.
Nestes 5 contos, Gógol com seu estilo leve e divertido, recheado com um suave lirismo, conduz o leitor ao mundo mágico do imaginário Russo.
Em “O Capote”, vemos a história de Akáki Akakievitch, um funcionário público medíocre que se esforça para trocar seu velho e surrado capote por um novo, visto que o mesmo é motivo de risadas e escárnio dos que vivem à sua volta. Esse conto, talvez o “menos fantástico de todos” expõe o singular sistema de hierarquias dos funcionários civis russos. Apesar de não ser o mote principal do conto, todo o mecanismo de funcionamento da máquina estatal russa é exposto aqui, com implicações importantes no desenrolar da história. Apenas no final, Gógol se deixa levar pela sua tendência ao fantástico, mostrando o destino do protagonista principal. Ótimo conto.
O conto “Diário de um louco” talvez seja o mais “sério” dessa lavra, onde o nome do conto dá o mote da história. O interessante é que o autor, ao mostrar o ponto de vista do louco, nos expõe a uma certa insanidade reflexiva. Será se o louco do conto é louco mesmo? Talvez o autor, por já ter tido crises nervosas, tenha usado a si próprio para compor o personagem, já que pela estrutura do texto ele parece ser conhecedor profundo do tema.
“O nariz” outro conto muito conhecido do autor é uma brincadeira estilo “Dr. Jekyll e Mr. Hyde”. A diferença que o “lado maligno” é um nariz que salta do rosto do personagem e sai aprontando diabruras por toda parte. Altamente divertido. Aqui podemos ver a faceta de brincalhão do autor em seu estado mais puro.
Os dois últimos contos “Noite de natal” e “Viy” são os que mais se enquadram na categoria de fantástico, onde o autor, como mesmo diz no início do texto, retrata a história tal qual ouviu. Trata-se de histórias do folclore ucraniano onde personagens como o diabo e bruxas se relacionam com os humanos com grande naturalidade. São contos extensos que poderiam até ser classificados como novelas que mostram a capacidade do grande contador de histórias que foi Gógol. Nesses contos, o ideal é relaxar e se deixar levar pela curiosa cultura russa e seus personagens curiosos. Ótimo livro.