Rikee 29/11/2023
Geracional Obra Prima
As ações da protagonista são intragáveis. Essas provocam o salto dos nervos do interlocutor, que também estão mergulhados no torpor análogo ao álcool, que embriaga as personagens.
Assim mais ou menos como dito por Eduardo Marciano - a figura titular que a narrativa segue - em companhia dos amigos, nas pândegas noites de pensamento intelectual, "colhemos o fruto verde e deixemos ele apodrecer em mãos" há as marcas de um profundo desligamento com a ordem confirmada, com a certeza e a vulnerabilidade acerca de quais passos seguir agora em suas vidas. Não há nada válido a ser seguido, ao mesmo tempo em que a bruma subterrânea entre bombas fecunda a agitação da juventude. Mais adiante, apesar de circundar todo o enredo, os garotos sentem-se envelhecidos muito rapidamente, precoces em relação à vida, em descompasso com as marcas ideais para desfrutá-la com adequação.
Tudo está sem direção e ausente de lógica, todos nascem, crescem e finalmente morrem, rapidamente. O posto dos amigos, a obrigação de Eduardo, os caminhos que cada um deve seguir estão em suspensão, pois não há um guia. É preciso retornar ao que era o ritmo de antes, porém não é possível. As suas obrigações, falsos comprometimentos, impedem isso de se concretizar.
Neste romance de formação, é condenável, isto é, não há escapatória que estejamos aprisionados e "entrelassadíssimos" à maldição de recomeçar, sempre.
O Sabino é um baita escritor. Sabido, ainda o seu primeiro trabalho publicado é carregado de genialidades, com a forma das palavras selecionadas com cuidado e balanço sensíveis ao retratar a inventividade pessoal e identidade únicas das figuras intelectuais que aparecem na história.
Perceber a Belo Horizonte do passado entre as páginas agregou muita felicidade na minha experiência.
Cru, massivo, o livro de uma geração.