Anaj98 22/02/2023
O tudo que podia ter mais
"A cartelização do mercado gera concentração de riqueza, aprofunda as desigualdades sociais, incentiva a corrupção, drenando os já escassos recursos públicos”- Rodrigo Janot.
Encontrei esse livro naquela feira de livros estabelecida no corredor do shopping Palladium daqui de Ponta Grossa, mas também está disponível para assinantes do kindle Unlimited. Me interessei pela premissa estampada na capa de mostrar os “bastidores da operação que colocou o sistema político em xeque”. A obra escrita em 2019 trata sobre uma operação lava jato com um pouco do seu brilho já perdido, ocupando menos atenção na mídia (mas para mim, até hoje, com um valor sentimental muito importante). Confesso, todavia, que aquilo que me chamou atenção na capa foi também o que mais me decepcionou com o livro: o fato de ser literalmente um material de “bastidor”.
O livro tem um ar literal de “livro de recordações”, e apesar de organizar e sistematizar alguns fatos (não todos) revelados pela força tarefa, a narrativa é o tempo todo invadida pelo escritor por momentos desconfortáveis de auto- elogio, outros inúmeros trechos repetitivos justificando a atitude do Rodrigo Janot em abrir ou deixar de abrir uma denúncia e relatos pessoais que, para mim, soaram irrelevantes ou eticamente questionáveis.
Apesar das críticas, deixo o meu elogio aos envolvidos na elaboração do “Nada Menos que Tudo” em deixar claro as consequências dos esquemas de corrupção revelados pela lava jato, que evidenciou principalmente as relações de promiscuidade entre poder público e privado, que se assenta na cultura de trocas de favores entre “amigos”, com interesse único em enriquecer (ilicitamente) e manter o poder de influência e controle, filosofia que corrói o livre mercado e força das nossas instituições democráticas.
Recomendo a leitura para quem deseja ter um outro olhar desse capítulo interessante da nossa história, seja “lava jatista” ou “anti lava jatista”, a fim de relembrar a empolgação de esperar ansiosamente os noticiários, aguardando vazamento de áudios, depoimentos, ou acordar com notícias de busca e apreensão em casas de políticos, empresários, etc. E depois discutir com seus colegas de trabalho, escola ou faculdade tudo o que foi revelado nas últimas operações da “operação que colocou o sistema político em xeque”.