Pri | @biblio.faga 27/10/2019
“Não, eu não cairia sem lutar. Se o homem é a cabeça da casa, a mulher é o pescoço, ela é quem ordena a direção” (p. 161).
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Hoje vamos falar de mais um livro que conheci por um projeto lançado e financiado no Catarse: a antologia “Vilãs - O Lado Obscuro da Fantasia”.
Trata-se de onze contos, escritos por mulheres, sobre mulheres poderosas e o lado obscuro não contado das histórias.
• O primeiro conto "Abandonada", de autoria de Karen Alvares conta a saga da criança Poliana e a transformação de Paula em uma "bruxa má".
Adorei o final e acredito que, embora seja um tanto quanto complicado para alguns admitir, foi impossível não me identificar com a Paula em alguns momentos.
• "A mais bela", escrita por The Wolf, por sua vez, narra a relação de Hilde Bergman (Grimhilde) com sua enteada Evelin.
Devo confessar que foi um dos contos que mais gostei.
Amei acompanhar a evolução da personagem Grimhilde e conferir a versão da história pelo seu olhar. A crítica ao universo cinematográfico é pontual e brilhante, tal como o questionamento sobre a sociedade que ensina as mulheres a se odiaram e competirem entre si. O final é maravilhoso.
• O conto "A face da inocência" (Deia Klein), nos brinda com a história de amor de Grace e Theodoro.
Romance este um pouco tumultuado pela sogra “do mal”, a Dona Quitéria.
• Em "Bendita seja a criação, maldita é a criatura" de Geovanna Ferreira, temos como objetivo entender qual é a relação entre Isabela, Surya, Eulália, Matilde, Lurdes, Yellena, Moiara, Bárbara e Celeste.
Um conto brilhante. Confesso que tive que ler mais de uma vez.
• O “Mal de ojo”, escrito por Soraya Coelho, mescla uma história de vingança com o nascedouro de uma bruxa.
• Em “Marcada”, de autoria de Nara Odelle, temos, em minha opinião, uma das ilustrações mais bonitas do livro.
O conto, ambientado no ambiente circense, conta a história de Amélia e sua fiel companheira Eveline. Cuidado com a presença de monstros.
• A história “Os sóis de Maria” (Laisa Couto), revela-se cheia de mística e simbolismo e nos presenteia com a vida de Maria do Céu e sua mãe. Maravilhoso e cheio de significados.
• “A assassina do príncipe” (Thais Rocha), como já antecipa o título, descreve a trajetória da jovem Skylar até o momento em que mata o príncipe Fendrel.
• “Ao ouvir os sussurros da morte, ela respondeu”, de Ana Cristina Rodrigues, nos deixa com vontade de ler o romance “Atlas ageográfico de lugares imaginados” e com vontade de adotar e acolher o cachorro Nuada.
• Outro conto que gosto muito é “A natureza das minhas intenções”, de Fabiana Ferraz.
É maravilhoso acompanhar o processo de nascimento de uma Rainha.
Gostei muito de como o livro e, especialmente esse conto, retrata a relação com o místico e a magia.
Espetacular a critica ao “final feliz” da história da mulher “sortuda” que se tornou esposa.
• Por fim, “A viúva do mar”, de Clara Madrigano, retrata com maestria o processo de se tornar uma bruxa perante os olhos da sociedade, principalmente, os masculinos.
Impossível não se afeiçoar a Mags e a Mary O’Leary.
Quotes:
"Ademais, num mundo onde mulheres eram educadas desde muito cedo para enxergar outras mulheres como rivais a se destruírem, aquele comportamento era, apesar de completamente reprovável, compreensível. De certo modo, aqueles dizeres não eram frutos nascidos da mente da jovem à sua frente; foram nela injetados por uma sociedade corrompida, de valores distorcidos, cujas imposições deviam ser seguidas sem questionamentos ou objeções" (p. 41).
“A vida é um jogo. Ganha quem souber blefar melhor. Fui chamada de má, cínica, leviana, tirana e injusta, mas não sei se todos esses adjetivos se encaixam. Tentei ser apenas eu mesma. Nunca escondi quem eu era ou qual a natureza das minhas intenções, portanto, aceito quase tudo, menos a pecha de tirana” (p. 158).
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