spoiler visualizarGaldino 22/03/2019
Um livro que remete à condições atuais humanas.
"Jesus está sendo beijado por Judas. É uma cena serena, parece que os dois - Jesus e Judas - sabem o que fazem. Para o mal ou para o bem, é importante saber o que se faz, mesmo quando não se faz nada de importante" p.118.
Em suma, no decorrer de seu livro, Carlos H. Cony, coloca em prática essa sua frase supracitada, compreende bem as intenções de autores como Freud, e em seu livro, podemos ver alguns estilhaços dessas ideias. Não apenas por isso, o autor traz uma certa angústia ao leitor - e faz isso bem, "para o bem ou para o mal" - com capítulos curtos, que vão deixando a história mais ansiosa e compulsiva.
No decorrer de sua narrativa, temas como relações familiares, homossexualismo, infância, drogas, são abordadas e impressas de uma forma mais solene, não ambíguas, de forma que o leitor, em certo ponto, consegue se identificar, com as tomadas de decisões e acontecimentos ocorridos na vida do personagem principal, que narra o livro, Alfredo.
(Spoiler)
Alfredo tem sua infância marcada por sua relação com seus pais, e com seu irmão Alberto, à qual se tem uma relação intensa, e, considerada, até certo ponto, normal, dentro do que se entende de desenvolvimento saudável de uma criança. Posteriormente, a relação de Alfredo com o seu irmão se deterioriza, em conjunto com a de seus pais e isso é o que leva-o à partir para Paris.
Para deixar os problemas de seus 17 anos vividos para trás, Alfredo vai para Paris com o intuito também de estudar Arquitetura, e lá conhece uma garota chamada Chantal. Através dela, dá-se o início do seu problema com as drogas, na qual atrapalha seus estudos, sua economia e seu prazer e reconhecimento existencial, e por que não o amor - a si próprio também?
Por último, ao decorrer da história, Alfredo se vê distante dessa Paris com a qual passou quase dois anos e conhece um amor novo, que se propõe e lhe ensina uma vida "normal", o livrando de suas mazelas. "Patrícia aparece. Cada dia mais bonita. Ela me droga. Me beija na boca, à vista de todos" p.117.
O personagem consegue ver sua infância - e ligeiramente, o seu passado em paris, - como algo até fugindo do ridículo na qual ele suporta, algo simples e lúcido de se entender. Compreende e pretende a si próprio ser um homem normal, não só através do amor fora do seio familiar, como também, com confiança de seus pais e seu irmão, a qual, por natureza das relações familiares, e ainda mais, humanas, ainda rendem certo ciúme e discordâncias um ao outro.
E disse o Senhor a Caim:
- Onde está o teu irmão Abel?
Ao que caim respondeu:
- Não sei. Por acaso sou guardião do irmão que tu me deste?
Gênesis, 4 - IX.