ratão 30/03/2024
Trapiche
Era onde viviam, onde criaram memórias, onde de certa forma tiveram uma família, não a tradicional... ja que não tiveram esse luxo de um colo materno, uma cama para dormir e alguém que o cuidassem, o velho trapiche.
Como a criminalidade chega nas crianças? é uma pergunta com várias respostas, e algumas delas se encontram no livro.
A perda, a dor, a "mãezinha" ou "irmã" de todos, Dora. A ausência afeta nossas experiências e ciclos sociais, encontraram na Dora um carinho que não tivera em suas vidas, encontraram na Dora paz, segurança.
Crianças que não tiveram acesso a bens BÁSICOS de um ser humano, crianças que cresceram como homens adultos, e não como crianças. Andavam como homens, pensavam como homens e viviam como homens, porém no fundo, assim como o Padre José Pedro observou, eram apenas crianças. Criaram uma resistência imensa com as dores da vida, transformaram sua vulnerabilidade em sinônimo de resistência as ruas. A mesma rua que se enchiam de orgulho, a matavam. Um amor traiçoeiro.
"Só a suave carícia no seu rosto. Era como se o mundo houvesse parado naquele momento do beijo e tudo houvesse mudado. Só havia no universo inteiro a sensação suave daquele beijo maternal na face do Sem-Pernas..."
Cada um criou seu próprio senso de identidade, tendo suas próprias lutas.
Livro bom, extremamente delicado e detalhado, causando umaleitura cativante.