Resenhas - O Cortiço

Thiago Duarte 03/05/2024

O Cortiço
Por um longo tempo, relutei a ler O Cortiço. Eu já estava munido de alguns spoilers e sobre o que tratava o livro. Porém a máxima foi justamente porque já me encontrava à parte de que era um livro muito problemático. Afinal, apesar de não ser o pioneiro, é o marco do naturalismo brasileiro marcado pelo cientificismo.

Nessa controversa obra, Aluísio Azevedo mostrará como é o convívio dos moradores do Cortiço João Romão, os quais são pessoas de baixa renda. A história contém diversos personagens, o que pode ser um desafio ao leitor. Porém o protagonista é João Romão, um português ambicioso que, à custa das economias da (ex)escavra Bertoleza, constrói as casinhas que darão origem ao Cortiço. Assim, desbravamos as desaventuras do rapaz que só quer ascender socialmente.

Porém, para mim, mais que João Romão, o local sim é o verdadeiro protagonista do romance, pois aposentará personages de diversos tipos. O convívio entre eles dará ao lugar uma força metonímica, pois passará a ser festeiro, ébrio, vulgar e vingativo.

Quando falamos de naturalismo, nos referimos justamente na corrente literária que terá como grande marco o cientificismo. O Cortiço é a prova desse conceito, pois a obra bebe das desagradáveis teorias de raça. Há passagens preconceituosas e racistas, já que o intuito é mostrar que só uma raça é superior: a branca.

Aliado a essa perspectiva eugenista, há também o conceito filosófico de determinismo. Acontece que o caráter das personagens serão determinados de acordo com o meio em que elas estão inseridas. Nesse sentido, as pessoas que moram no cortiço têm o caráter duvidoso. Quem vem de fora e se instala ali, por mais que seja hábil, passará a ser leviano e preguiçoso.
Urge, então, a necessidade de animalizar a todos os personagens, pois seriam como se eles fossem selvagens, impossíveis de viver em uma sociedade normal.

Enfim, ao final da leitura, percebi que por mais problemático que seja o livro, ele consegue ser envolvente ao passo de conseguir tirar boas risadas. Acredito que a edição foi essencial para a leitura ser a mais satisfatória possível, pois há diversas palavras e expressões que eram da época, mas que para mim não fariam o menor sentido senão houvesse as notas de rodapé.

Maria 01/05/2024

Realidade cruel
É o segundo livro do Aluísio que estou lendo, primeiro li Casa de pensão, apesar de ter gostado o Cortiço é a obra prima do autor mesmo. Vários personagens estereotipados, mas que representam tanta coisa. A desigualdade social e injustiça tão presentes em nossa sociedade são escancarados aqui, é triste e cru, porém é a realidade.

Mimaria 30/04/2024

? O Cortiço é um clássico da literatura brasileira, que todos devem ler (estou relendo). O romance é ambientado no Rio de Janeiro, no final do século XIX, e o cenário principal é uma estalagem, que a época era uma habitação coletiva para pessoas pobres. O proprietário da estalagem João Romão, português avarento e avido por se dar bem a todo custo, é o senhorio de uma diversidade de personagens, descritos físico/comportamental de acordo com o meio em que vivem, cor da pele, classe social, e as especificidades histórico e científicas de 1980 (ano de lançamento da obra).

Expoente do naturalismo, na obra há a denúncia das péssima condições de habitação e de carência econômica dos moradores, a fim de evidenciar suas dificuldades de mantença ante a exploração do estalajadeiro (capitalista selvagem). É um retrato do Brasil, nos conecta com o que fomos e ainda somos como sociedade. É uma leitura necessária, principalmente, para quem gosta de entender suas origens.

Bruna.Bandeira 28/04/2024

Moderno para época, mas...
Um clássico que vale a leitura, embora seja difícil ultrapassar o racismo e o preconceito profundamente arraigado nas ideias naturalistas que povoam a publicação.
Ainda assim, é um texto moderno de denúncia contra a situação dos cortiços da época.

DouglasPires 28/04/2024

Literatura essencial
O próprio livro em si é um grande cortiço, mas preste atenção no palavreado e irá curtir a viagem junto com os personagens.

lgiuliam 27/04/2024

Um clássico brasileiro!
?O cortiço? foi minha primeira experiência com um clássico brasileiro, eu e minha amiga decidimos ler juntas (e confesso que foi minha única motivação pra não ter desistido dele no início). É uma sensação muito gostosa ver como aluísio descrevia a alegria brasileira. Acho que o final poderia ter sido melhor mas eu gostei do livro no geral.

Emanuelly.Prado 27/04/2024

O livro se encaixa perfeitamente com qualquer época vivida pela sociedade brasileira.
Ele revela a hipocrisia aristocrática, a arrogância e corrupção humana e como nós podemos ser terrivelmente mesquinhos.
Um dos casos mais tocantes foi o da Piedade e do Jerônimo. Entendo que há paixões arrebatadoras, mas ele foi completamente egoísta e indiferente à sua própria filha, a qual disse que não ia desamparar.
Outro caso foi da Pombinha e sua mãe, pobre mulher, batalhou tanto para a filha acabar daquele jeito...
Sem falar da Bertoleza, mulher trabalhadora e amável, que foi traída por seu "amigo" e acabou tirando a própria vida.
É um livro realmente bem escrito, cheio de personagens complexos, mas reais. Gostei muito dele, por mostrar os defeitos humanos e não "passar pano" pra nenhum personagem (característica do Naturalismo).
Indico para quem realmente quer ver a realidade da vida, não é um romance ou uma comédia, mas uma exposição clara da sociedade brasileira, seja no século XX ou XXI.

Vitor.Cruz 25/04/2024

?
Após a leitura de 'O Cortiço', fiquei impactado pela intensidade com que Aluísio Azevedo retrata a vida naquele ambiente. A obra é um retrato claro e cru da sociedade da época, abordando de forma linda, dramática, triste e cômica ao mesmo tempo as críticas sociais e culturais do Brasil e de Portugal. A forma como o autor descreve a convivência entre a elite e a pobreza é impressionante, deixando claro o contraste entre esses dois mundos. No entanto, não pude deixar de sentir um forte desprezo pelo personagem principal, João Romão, que representa perfeitamente a extrema direita e cujas atitudes são lamentavelmente ainda presentes nos dias atuais. Além disso, o triste fim da personagem Bertoleza me deixou incomodado, mostrando as duras realidades enfrentadas pelas mulheres negras naquela época. A leitura me fez refletir sobre as relações humanas e a dinâmica social, despertando uma série de emoções e pensamentos profundos. Recomendo a todos que buscam uma leitura impactante e reflexiva.

Ju 25/04/2024

O que falar deste livro? Não lembrava de várias coisas ? mostra a real mentalidade dos viventes dos períodos anteriores

Aivyn0 24/04/2024

Mt bom
Simplesmente perfeito, por mais que a escrita seja complicada, quando você se acostuma e percebe as referências do livro você fica abismada e simplesmente ama tudo nele. ?
Percebi que João Romão pode ser representado pelo capitalismo, porque o que ele mais quer enriquecer de qualquer maneira, ou seja, não importava os meios e sim os resultados resultados.
Já Bertoleza pode identificada como a mulher escrava na época da abolição da escravidão. Pq naquela época por mais que os escravos tivessem conseguido sua liberdade, eles ainda estavam atrelados a uma figura considerada superior.
Esses são apenas dois exemplos de muitos outros.

Procrastinavel 23/04/2024

Minha honesta reação foi: "Eu juro que eu gelei, eu congelei, eu travei, eu paralisei, eu não consegui olhar para o lado, eu fiquei pasma, eu fiquei Branca, eu fiquei fria". Que final foi esse?! juro, uma obra prima!!

Talita324 23/04/2024

Considerando a época que foi escrito, não vou problematizar as questões de racismo, etc e entendo ser um relato interessante dos costumes da época e o quão interessante a vida dos outros pode ser, cheias de alegrias, desgraça, dor e amor.

Guil 22/04/2024

Leitura comentada
Uma releitura de uma obra muito boa pra relembrar a história, mas dessa vez escutando na voz da jornalista Isabela Lubrano do canal Ler antes de morrer, que faz vários comentários para auxiliar na contextualização do texto e também na tradução de alguns termos da época.
Essa é uma leitura obrigatória para quem tem interesse em conhecer um pouco da história desse nosso Brasil preconceituoso, escravocrata e corrupto apesar de belo.

Jamille Madureira 19/04/2024

O livro retrata a diferença de classes, a luta e as mazelas dos pobres e trabalhadores enquanto são explorados pelos ricos. Publicado em 1890, mas infelizmente é a realidade que ainda se faz presente.

Marcos Toledo 19/04/2024

Que bagunça, que confusão, bom demais! É o Brasil do Brasil ?

Não dá pra ler com o olhar de hoje para o livro. O autor é um homem do seu tempo e é isso. Não tira a grandeza da obra também. Muito legal ver os elementos da época, o que tava em moda na literatura brasileira. Ver o tanto que ele inovou pra época, em coisas que hoje já são mais comuns.

Albino foi meu personagem favorito, pioneiro demais para época no Brasil.

Bertoleza? chorei demais.

É um romance naturalista que retrata a vida no Rio de Janeiro no século XIX. Senti que o autor está sempre criticando esse povo que é pobre, vendo eles como inferiores. Determinista ao mostrar que não tem escapatória, o fato deles serem do cortiço, de serem do povo assim, vai levar eles, categoricamente, a serem problematicos, subjugado e inferiores.

Mas o que deixa esse livro tão bom, é justamente esse suco de Brasil. Essa cacofonia de personagens, todos muito bem construídos, todos muito reais, todos muito complexos.