Aline 01/11/2013
Psicodélico.
Para ler "Morangos Mofados" tem que ter uma mente aberta e demasiada sensibilidade pois ele é na verdade o retrato da geração dos anos 70 - a contra-cultura guiada pelos ideais dos movimentos gay e feminista, da ideologia hippie e da revolução sexual. E ela é, entretanto, sufocada pelo cenário da ditadura militar, pelo imperialismo norte-americano e pela Guerra do Vietnã.
O livro é recheado de contos com sexo, homossexualismo, crises existenciais, melancolia, desilusão, muitas drogas, muito rock na vitrola. Caetano, Lennon e Stones. É a geração perdida e a liberdade almejada.
“Ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castañeda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean-Paul nos 50, em Paris; 60 em Londres ouvindo here comes the sun here comes the sun, little darling; 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54; 80, a gente aqui, mastigando essa coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse gosto azedo na boca.”
Dividido em três partes, no "O MOFO" temos todas as angústias sentidas em cada frase dessa geração perdida.
Em "OS MORANGOS" uma fagulha de esperança começa a aparecer.
No conto que fecha o livro, "MORANGOS MOFADOS" é inspirado em Strawberry Fields Forever - que é uma de minhas músicas favoritas - o conto é um recomeço: o protagonista deixa de sentir o gosto de morangos mofados em sua boca e deseja agora plantar “frescos morangos vivos vermelhos”. Sim.
É depressivo, louco, psicodélico e de uma sensibilidade infinita. Bela obra.
site: https://flagrantdelire.wordpress.com/2015/03/19/resenha-morangos-mofados/