Danilo 28/12/2020
A arte é a única coisa que salva nessa obra (não é ironia).
Aquele papo do "complexo de vira-latas" tem dois extremos: os que dizem que tudo que é nacional não presta e os que ovacionam tudo só por ser nacional. Na minha opinião, essa HQ faz parte deste segundo extremo, pois o que mais ouvi sobre ela foram adjetivos como "inovadora", "surpreendente", "profunda", "criativa", dentre outras, mas ao ler não vi absolutamente nada disso.
Também vi muitos criticarem a arte, mas para mim ela foi justamente a única coisa que salvou, pois ao pensarmos em desenhos de "palitinhos", automaticamente associamos a algo simplório, fácil, geralmente acompanhado de frases como "isso até eu faço", mas é esse tipo de HQ que mostra que não, não é tão fácil quanto parece, pois exprimir sentimentos e emoções em desenhos simples, sem elementos cruciais como olhos e marcas de expressão não é para qualquer, portanto neste quesito, HQ nota 10.
Agora os pontos que me desagradaram. A premissa é bacana (mas nada inventiva), e em determinados momentos a história parece avançar num rumo mais filosófico, existencialista, mas acaba ficando apenas na superfície, sentimos apenas o princípio de uma angústia e sentimentos semelhantes, mas a obra falha em nos fazer sentir isso por completo.
Entrando agora no campo dos SPOILERS, nos momentos que a história tenta ser inovadora ou fazer algo diferente, não consegue, toda a questão da paranoia já é bem batida, por mais que seja aterrador estar preso num bunker, tudo parece muito corrido e o personagem perde a razão muito abruptamente, no final há um momento Akira que parece meio gratuito para tentar mostrar o personagem lutando contra seus monstros ou algo do gênero, e o final aberto é um recurso que gosto muito, mas as possibilidades que ele deixou são bem básicas, o personagem pode ter recobrado a razão e decidido enfrentar seus medos saindo do bunker, ou ele se matou/aceitou que vai morrer, e além de ter sido contado de um modo simples, é um final telegrafado que não causa lá muita reflexão se você tiver um mínimo de bagagem de vida.
Como eu disse, não tenho problema com a arte, inclusive é o ponto que salvou na minha opinião, mas sei que muitos criticam a HQ por este aspecto, e muitos outros a defendem dizendo que "a arte ser de pauzinho é para mostrar que aqueles personagens podem ser qualquer pessoa", e isso faria realmente muito sentido, se no meio da HQ não houvesse um desenho detalhado do rosto de um dos personagens, que faz cair por terra essa justificativa.
Talvez todo este meu descarrego de frustração tenha soado arrogante, prepotente, mas não é isso, foi mais um desabafo, inclusive gostaria muito de encontrar um outro ponto de vista ou detalhes que deixei passar na minha interpretação que podem me fazer mudar de opinião, mas até lá, pra mim essa não passa de uma HQ superestimada, elogiada apenas por pessoas que defendem algo só por ser nacional ou (o que também vi muito) avaliações elogiosas de pessoas que são amigas dos autores ou não querem ficar mal com eles.