spoiler visualizarKurth 27/01/2024
Ótima releitura.
"- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
- Em suma - disse Mustafa Mond - o senhor reclama o direito de ser infeliz.
- Pois bem, seja - retrucou o Selvagem em tom de desafio. - Eu reclamo o direito de ser infeliz."
""Uma Nova Teoria Biológica" era o título do trabalho que Mustafá Mond
acabava de ler. Ficou sentado algum tempo, as sobrancelhas franzidas
meditativamente; depois tomou a pena e escreveu sobre a página de rosto: "A maneira pela qual o autor trata matematicamente a concepção de finalidade é nova e extremamente engenhosa, mas herética e, no que diz respeito à ordem social presente, perigosa e potencialmente subversiva. Não publicar." Sublinhou
essas palavras. "O autor será mantido sob vigilância especial. Sua transferência para o Posto de Biologia Marinha de Santa Helena poderá tornar-se necessária."
Uma lástima, pensou, enquanto assinava. Era um trabalho magistral. Mas se se começasse a admitir explicações de ordem finalística... bem, não se sabia qual poderia ser o resultado. Era o tipo da idéia que poderia facilmente descondicionar os espíritos menos estáveis das castas superiores - que poderia fazê-los perder a fé na felicidade como Soberano Bem, e levá-los a crer, ao invés disso, que o objetivo estava em alguma parte além e fora da esfera humana presente; que a finalidade da vida não era a manutenção do bem-estar, e sim uma certa intensificação, um certo refinamento da consciência, uma ampliação do
saber... O que, refletiu oAdministrador, bem podia ser verdade. Mas inadmissível nas circunstâncias presentes. Retomou a pena e, sob as palavras "Não publicar", riscou um segundo traço, mais espesso, mais preto do que o primeiro; depois
suspirou. "Como seria divertido", pensou," se não se tivesse de pensar na felicidade!"
"