Naiana 23/05/2021
Comprei esse livro há uns 16 anos, mais ou menos, como eu queria ler ele, mas sempre ficava para depois, fiquei anos sem ler nada e ele sempre na estante me espiando, me perguntando silenciosamente quando eu o leria, nunca chegava o dia. Ano passado retomei o hábito da leitura e resolvi que era a vez de ler Contos Inacabados, já tinha 17 anos que li o último livro sobre a Terra Média e a origem do mundo que Tolkien criara em O Silmarillion, tanto tempo que não andava pelo meu mundo literário favorito que eu precisava retornar a ele.
No Início fiquei um pouco chateada ao perceber que seria mais um livro com comentários do Christopher Tolkien, o último que tinha lido editado por ele foi A Queda de Artur, e não me empolgou muito a tentativa dele explicar o que o pai queria dizer em seu poema, mas me admirei em ver que neste livro fazia sentido as intervenções dele. Não sei se o fato de já ter tido esse contato prévio em A Queda de Artur e me habituado a forma como ele considerava e apontava as possibilidades do texto de Tolkien mediante rascunhos encontrados da obra inacabada, ou pelo fato de já ter um conhecimento maior deste mundo, lido tantos outros livros que se passaram nele, que achei realmente importantes as considerações, me fizeram ir mais além, mas então, no meio da empolgação da leitura, me vi pensando que este livro não era para ser lido sozinho, ele faria muito mais sentido se fosse lido juntamente com outras obras de Tolkien, e havia outras publicações que eu não conhecia na época em que adquiri Contos Inacabados, agora eu já sabia da existência de A Queda de Gondolin, Os Filhos de Húrin e Beren e Luthien, sendo os dois primeiros bem presentes em Contos Inacabados, imagino que traga os contos iniciados neste de forma mais completa também... O fato é que passei a acredirar que no mínimo Contos Inacabados deveria se lido conjuntamente com O Silmarillion ou pelo menos uma leitura próxima, e já havia 17 anos que eu tinha lido O Silmarillion e lido da forma errada (ainda não sabia ler contos e achava que tinha que ler como um livro de prosa qualquer, onde sentamos e lemos a estória até o fim, mas não é assim, ele demanda mais tem e cuidado com a leitura, para que se possa saborear cada conto, entender o que cada conto quer dizer, ainda mais os contos de Tolkien, o mestre da palavras e criador de mundos e línguas). Ler Tolkien correndo é passar batido por toda a beleza de sua criação, é como andar de correndo por uma estrada só olhando para frente e deixando de apreciar a vista e as surpresas do caminho, se tiver uma estrada você consegue ir adiante sempre, mas se tiver que encontrar o caminho seguindo referências, jamais irá a lugar algum pois não viu o que tinha em sua volta. Não sei se minha analogia foi boa, mas foi isso que aconteceu comigo, a leitura de O Silmarillion não foi boa, eu passei batida na estrada e não extraí muito de seus contos, lembro de alguma coisa, mas não o suficiente, sempre falei que um dia iria reler ele, e hoje mais do que nunca tenho essa certeza, mas antes quero as demais obras citadas acima, e mais algumas que creio que compõe o mundo criado por Eru Ilúvatar, e tornarão essa leitura mais completa.
Me estendi tanto falando das impressões que tive que nem falei direito de Contos Inacabados. É um compilado de estórias desde a Primeira Era até o início da Quarta Era, com a derrota de Sauron e a destruição do Anel. Conhecemos mais sobre os grandes personagens e acontecimentos que marcaram e sem os quais a história da Terra-média poderia ser bem diferente. Começamos com a história de Tuor e como ele conseguiu chegar a Gondolin, passamos pela vida conturbada de Túrin amaldiçoada por Morgoth, conhecemos um pouco mais sobre Númenor, seus costumes e como o anseio pelo mar de Aldarion levou à ruína de Númenor anos depois, mas ao mesmo tempo corroborou para que Sauron não tivesse dominado a Terra-média muito antes e quem sabe conquistado-a de fato. A vida de Galadriel foi destrinchada aqui, grande Senhora dos Noldor, que criou um refúgio seguro em Lothlórien, cuja sabedoria por vezes impediu Sauron de ir mais além. Detalhes sobre Isildur, que desconhecia descobri aqui, assim como o reino dos numenorianos sobreviventes à Queda prosperou e decaiu após a Guerra da Última Aliança, onde Isildur arrancou o Anel de Sauron após a morte de seu pai. A aliança de Gondor com os cavaleiros do Norte que futuramente fundaram Rohan ao vir ao auxílio de Gondor em dificuldade também é contada aqui e a partir deste ponto as coisas se tornaram mais familiares para mim, tive conhecimento de alguns fatos da trama de O Hobbit que desconhecia, sob a perspectiva de Gandalf dos acontecimentos, assim como alguns detalhes sobre a busca do Anel por Sauron antes de se mostrar para o mundo novamente que deixaram Frodo em uma situação muito mais delicada do que que aparentou em O Senhor dos Anéis.
Enfim, para quem ama Tolkien, com certeza esta obra é um deleite, se lida em conjunto com outras obras dele, ou ao menos uma leitura não muito distante de suas outras obras sobre este mundo fantástico que Tolkien criou, lhe traz detalhes da história que são tão importantes e deixam a narrativa dos fatos muito mais completa e maravilhosa.
O que ficou dessa leitura? A certeza de que irei adquirir as demais obras de Tolkien e ler e reler toda a sua obra, conhecer melhor esse mundo que tanto amo estar. Tolkien é meu autor favorito no mundo, e toda vez que leio ou releio algo escrito por ele descubro novas coisas que ainda não tinha visto, há sempre mais atrás de uma pedra que talvez tenha passado despercebida a primeira vista que você sempre se surpreende ao passar de novo por ela.