Em Mundo perdido, Patrícia Melo dá continuidade à trajetória de Máiquel, protagonista do premiado O matador. Dez anos se passaram e ele, que já foi justiceiro da periferia e Homem do Ano do bairro, se tornou foragido da polícia. Mais desiludido do que nunca, o personagem volta a São Paulo para receber uma herança e decide procurar a filha, Samanta, fruto de seu primeiro casamento. Embora faça o possível para deixar a antiga vida para trás, ele não consegue escapar da violência que marca sua trajetória.
Máiquel sabe que, para sobreviver como foragido, é preciso se tornar quase invisível. Escondido na Baixada Fluminense, ele aproveita a companhia de Eunice, mas mantém a frieza necessária para se defender. Na cabeça, a traição de Érica, a ex-mulher que fugiu com Marlênio, um pastor evangélico, levando Samanta e uma boa quantia em dinheiro. Movido pelo desejo de vingança, ele contrata um detetive para descobrir o paradeiro do casal e começa uma jornada por um lado obscuro do Brasil.
Na estrada, Máiquel ganha a companhia de Tigre, um vira-lata que ele atropela por acidente, socorre e decide adotar. Juntos, os dois se deparam com um universo movido a suborno, conchavos e agressividade, que sai do Sudeste, passa pelo Centro-Oeste e segue para o Norte, alcançando a fronteira com a Bolívia. No caminho, cidades grandes e pequenas, um acampamento de sem-terra e até uma quadrilha internacional de tráfico de drogas. E, quando o passado bate à porta do foragido, só resta puxar o gatilho e partir.
Apesar de frio e calculista, Máiquel não perde a capacidade de atrair mulheres por onde passa. Eunice, Divani, Sílvia, Ana, Lúcia e outras cujo nome ele nem se dá ao trabalho de perguntar. Todas entram e saem de sua vida, já que o destino de um fugitivo parece ser mesmo a solidão.
Com uma narrativa direta e intensa, Mundo perdido é o retrato de um Brasil violento, movido pela corrupção. Alternando os papéis de vítima e algoz, Máiquel vive a realidade de quem está à margem da sociedade e sofre as consequências desse isolamento. Ao longo das páginas, os leitores se deixam envolver pelo magnetismo do personagem e percebem que bom e mau são conceitos subjetivos, que variam em função da realidade de cada um.