Mauricio (Vespeiro) 03/10/2017A turma do cemitério em uma ode ao terror!Obrigatório para os fãs do gênero, “Penadinho - Vida” é uma homenagem belíssima ao terror. Paulo Crumbim e Cristina Eiko criaram uma história fantástica que trata de um amor que transcende barreiras, desafiando os limites entre vida e morte. A paixão eterna entre Penadinho e Alminha. O clima noturno e sombrio foi fantasticamente concebido com traços que denotam cuidado extremo, uma aventura escrita e desenhada com o coração. O uso de luz e sombra é exemplar, o “brilho” dos fantasmas e dos reflexos que eventualmente aparecem é de encher os olhos. A diagramação é simples e agradável, combinada com a “fotografia” de cada quadrinho, cria um conjunto meticulosamente projetado para surpreender a cada virada de página. Beirou a perfeição e, se for para meter o bedelho, diria que só não a alcançou por não ter arriscado deixar todas as páginas com fundo preto ou escuro. Em algumas, o branco ofuscou o ambiente sinistro.
Roteiro e arte deliciosos, mas meu maior destaque vai para as empolgantes referências à cultura do medo, no seu mais amplo sentido. Não fiz uma investigação profunda em cada quadrinho, mas fui anotando o que reconhecia à medida que fui lendo a graphic novel. Já começa com o famoso “666”, onipresente em livros, filmes e músicas, incluindo a conhecida “The Number of the Beast”, do Iron Maiden. Logo em seguida, outra referência à Donzela de Ferro, quando aparece “dois minutos para a meia-noite” (“2 Minutes to Midnight”). Mais à frente apareceria também “corram para as colinas” (“Run to the Hills”). O humor refinado não dá tréguas. A figura mítica de Mr. Crowley logo aparece e com ele os demônios Amaimon (do mangá “Blue Exorcist”) e Pazuzu (o demônio que inferniza Regan McNeil em “O Exorcista”). Aliás, o quadrinho em que aparece a famosa cena mostrando a casa da família de Regan no filme foi um diamante encontrado no meio da história. Outra casa memorável que mereceu homenagem foi a de Norman Bates, de “Psicose”. E também “A Casa da Colina”, clássico de 1999, ganha espaço na festa. Vemos uma marcante encruzilhada mostrando as caras e a presença da Barca de Caronte. O poço de onde sai Samara de “O Chamado” também é utilizado, assim como aqueles olhos pretos escorridos que se tornaram clichê de terror nos anos 2000. Até o Homem Marshmallow, de “Os Caça-Fantasmas” teve seu lugar. Vi algo de Amityville e de Poltergeist e muitas outras referências (que imagino serem de games e/ou mangás) que não conheço. Haja coração, amigo!!
Extraordinárias as releituras de Penadinho, Zé Vampir, Muminho, Cranícola, Frank, Alminha, Lobi, Dona Morte, Dona Cegonha... Grande HQ!
Nota do livro: 7,87 (4 estrelas).