marieamuro 18/07/2023
Um salve pra Bru, uma recomendação para vida!
O principal motivo para este livro não pegar 4/5 estrelas pra mim é que, por mais que exista um identificação universal feminina aqui (ou de corpos, cis ou trans, que incorporem feminilidade), não acho que seja um livro para minha idade. E não idade apenas quantitativa (no sentido de tenho X anos), mas na minha bagagem pessoal mesmo, e também na bagagem literária. Este é um livro forte, cru, conectivo e reflexivo, mas pouco impressionante quando se já leu ou já adquiriu mais vivências.
Não deixou de recomendá-lo fielmente a qualquer jovem nos seus 12-19 anos, pois É um livro muito sensível, muito perspicaz, na visão emocionada e frenética que é adolescência. Achei realmente um trabalho excelente da autora nesse sentido. Vi a mim mesma com meus 16 anos, tomando as mesmas atitudes, usando o mesmo linguajar e pensando as mesmas coisas que a protagonista.
Mara foi minha segunda personagem favorita e isso é raríssimo de acontecer, eu tenho problemas com historias em 1º pessoa, mas ela me cativou. Mas a minha favorita foi realmente a doce Hanna, que novamente, terei que dar os parabéns para autora de criar uma personagem -veja que batido- tão REAL.
Rasgando elogios, parece não fazer sentido uma nota relativamente baixa, mas ai a gente entra num problema de narrativa que me incomodou o livro todo: a necessidade de trabalhar dois assuntos ao mesmo tempo. Primeiro de tudo: Não gostei de Charlie. Tipo não bateu. Tua ex ta passando por uma barra e você nem a segue quando ela é expulsa do grupo que ela mesma criou? Tha'ts a no-no. A necessidade de ter o apoio, mas ser alguém exigente. Fora a tal da Tess, mas não vou nem entrar nisso...
O que me incomodou, de verdade, foi a dinâmica de romance e relacionamento das duas vs. a expectativa do caso que aconteceu com Owen. Tipo, quando começa a desenrolar as duas, você não a mínima, quer só entender e ver desenrolar o caso. E ai quando você fica entretido com o romance e pensa "ok, vamos trabalhar com isso, aprofundar as duas", a história empurra de novo e engajamos num assunto tão sério que parece até inadequado colocar como pano de fundo pra um romance sáfico (ou hétero, eu não sei como chamar adequadamente, podem me corrigir!).
O livro ate que merecia umas 4 estrelas, mas não consegui ignorar essa troca de assuntos o tempo todo, mesmo eu compreendendo que uma pessoa como a Mara, não pode parar de viver por isso, e que infelizmente, há consequências e limitações emocionais depois desse tipo de agressão. Mas trabalhar ao mesmo tempo, assuntos tão sensíveis, acabou eclipsando um ao outro ao longo da narrativa. De primeiro sequer ligava para o que aconteceu com Charlie, depois entramos num triângulo (ou quadradokkk) romântico esquisito, e pulamos com a Mara lidando com tanta coisa que fica até tipo "meu deus quem esta ligando pra quem ela vai ficar agora?".
Finalizo a resenha com um grande beijo a minha doce Bruninha, que me recomendou com gosto esse livro. E eu recomendarei também continuando esse ciclo, pois o impacto mas a sutileza dessa narrativa me amadureceram ainda mais e me senti muito acolhida. Mais meninas - meninos, menines- merecem se sentir assim.