jiangslore 20/12/2023
[4/5]
A chamada na capa de "The House in the Cerulean Sea" diz que esse livro está próximo de ser perfeito. Pra ser sincera, discordo. Acho que há diversas coisas que podem ser consideradas pontos negativos no livro, mas acredito que a questão central é o fato de que, apesar de todas as críticas que consigo imaginar, eu não posso negar que me diverti demais durante a leitura. Além disso, penso que nenhum “problema” que senti durante a minha leitura comprometeu seriamente a obra que o autor se propôs a criar - em especial considerando o seu público alvo.
"The House in the Cerulean Sea" tem um enredo fofo, divertido e adorável. O ritmo dele é lento e não há conflitos significativos; por isso, entendo que ele não vai agradar todas as pessoas. Mas, após os dois ou três capítulos iniciais, eu percebi que não estava me importando nem um pouco com a lentidão do enredo porque eu estava adorando conhecer todos os personagens e passar algum tempo com eles.
E, falando nos personagens: todos eles são bem interessantes, e adorei o fato de que o autor conseguiu criar um elenco de personagens únicos sem que o fato de que cada um deles é especial fizesse com que nada neles parecesse verdadeiramente especial (sei que é meio confuso dizer isso, mas esse é um ponto que já me incomodou bastante em alguns livros). Penso que o universo criado no livro ajudou nisso - os limites com relação às criaturas mágicas que podem existir parecem ser bem amplos, o que possibilitou uma diversidade de personalidade e de aparência.
Aliás, achei o universo do livro muito interessante. É claro que analogias sobre discriminação com magia e criaturas mágicas não são algo novo. Mas a forma que isso é feito em "The House in the Cerulean Sea" é bem interessante, exatamente porque as criaturas mágicas existentes são extremamente diversas. Além disso, embora exista uma estrutura social e política que envolve os personagens, ela nunca é tratada em detalhes - o tom excêntrico dos personagens mágicos é mantido nas instituições não-mágicas (que foram criadas para regular as criaturas mágicas, mas aí já estou entrando demais em detalhes).
O conflito entre as crianças mágicas do orfanato e os humanos é um tema importante do livro. Acredito que ele foi tratado com simplicidade e profundidade suficientes, mas, ao mesmo tempo, há uma crítica que pode ser feita: os personagens intolerantes são completamente maus ou... bem, ridículos. Penso que isso é algo incômodo porque não é assim que as coisas acontecem. Uma postura inclusiva é certa porque todos merecem respeito, e não porque quem não acredita que todos merecem respeito é uma pessoa tosca. Claro, não acho que a intenção do autor seja insinuar isso - só penso que poderia ter existido um pouco mais de nuance.
Mas isso acabou não sendo um problema sério na minha leitura porque a ausência dessa nuance não prejudicou o livro (ou quase não o prejudicou) como um todo, considerando o seu tom. Não é como se o autor tivesse sido raso no que escolheu abordar. Ele abordou as questões que se propôs a tratar muito bem. A questão é que ele escolheu abordar algo que, na minha opinião, é um pouco estreito.
O meu problema com isso - e a razão pela qual eu coloquei aquele "quase não o prejudicou" antes - é que essa abordagem, de certa forma, também foi feita com relação a um dos personagens "bons". Há um mistério no livro sobre algo que determinada pessoa fez e, quando ele é revelado, nós descobrimos que ela fez algo que não põe, de modo algum, o caráter dela em cheque. Ela fez uma coisa completamente razoável e correta (e penso que a maioria das pessoas que conhecem a situação concordam com isso). Para mim, isso demonstra um pouco de maniqueísmo no livro, apesar da mensagem de que todos temos coisas boas e ruins em nós e o que importa são nossas ações.
Mas, apesar disso, o livro é muito legal. Claro que á alguns momentos em que os diálogos de "lição" são "na cara" demais - mas acho que isso é compreensível e não foi feito de uma forma insatisfatória. E, no final das contas, mesmo esses detalhes acrescentam mais ao “charme” do livro. Ele não é perfeito, e não está perto de ser, mas proporciona uma alegria tão sincera que não tem como não se apaixonar. E é por isso que "The House in the Cerulean Sea" é definitivamente uma leitura que recomendo!