Sergio 12/04/2014Ela se foi. E eu também.Este é mais um daqueles livros que acabei comprando pela sinopse e pelo preço convidativo. Devo admitir que foi uma surpresa boa e agradável.
Do enredo: Doug Parker é um jovem de 29 anos que encontra-se totalmente arrasado. Motivo: há pouco mais de um ano sua mulher, Hailey, veio a falecer em um desastre aéreo. Depressivo, que outrora tentou se matar tomando uma alta dosagem de medicamentos, Doug está com muito mais problemas do que imaginara. Seu pai, que demonstrava pouquíssimo afeto por ele durante a infância, agora sofre de problemas mentais causados por um AVC. Para suportar essas mudanças temperamentais do marido, sua mãe (que quase se tornou uma grande atriz) toma diariamente comprimidos relaxantes e vive sempre com uma taça de bebida na mão. Seu enteado, Russel, não consegue lidar com a perda da mãe e desde então tem se metido constantemente em confusões. Para completar a loucura familiar, sua irmã Debbie, (que conheceu o marido no shivá de Hailey) irá se casar e a gêmea dele, Claire (dona de uma personalidade cativante e que sempre consegue o que quer), está grávida e prestes a se divorciar. Sim, ela acaba se mudando para a casa de Doug.
Definitivamente, o protagonista não leva uma vida nada saudável, beirando o autodestrutivo. Logo ao acordar, acaba sentado em sua varanda, bebendo Jack Daniel's, na tentativa frustrada de afogar a solidão, além de ficar jogando coisas nos coelhos que invadem seu quintal. Como já foi dito na sinopse, o Doug nunca foi uma pessoa exemplar e dedicada. Após ser demitido diversas vezes de seus empregos, acabou conseguindo ser colunista de uma revista, onde passou a escrever sobre como se sentia em seu luto. Com isso, adquiriu algo que sempre almejou: visibilidade. Porém, como vocês podem notar, ela veio em hora equivocada. Durante o decorrer da estória, vários encontros são programados por Claire para que seu irmão tente sair do seu estado e siga em frente.
Em todo o livro, está presente abundantemente o uso de comparações. Não vou dar spoilers, mas uma das coisas que mais gostei foi a revira-volta dos últimos capítulos, além do fim que fica "em aberto", dando diversas possibilidades de imaginar o desfecho da trama. Apesar de possuir um título que pareça de "autoajuda", Como falar com um viúvo é um livro que trata de maneira cômica os fatos trágicos da vida, acrescentando uma pitada de "pimenta" e sarcasmo.
Do exemplar: A capa é simplesmente sensacional. Sim, é muito simples, mas é também altamente criativa e convidativa. As folhas são amareladas, o que ajuda muito na hora da leitura, dando mais conforto. A fonte é normal e a diagramação muito bem aplicada. Se não estou enganado, adquiri meu exemplar por apenas R$4,95 em uma das promoções relâmpago do Submarino. Assim como Ratos, o preço pago foi realmente MUITO abaixo do que o livro merece. Uma ótima aquisição literária!
Sobre o autor: Jonathan Tropper é autor de Plano B, Sete Dias Sem Fim, Everything Changes, The Book of Joe e This Is Where I Leave You. Ele é casado e mora com a esposa, Elizabeth, e os filhos em Westchester, Nova York.
Os direitos de adaptação de Como falar com um viúvo para o cinema estão sendo negociados com a Paramount Pictures.
Quotes:
"Ele levanta o cabelo, revelando um rabisco em forma de girino que se alonga pela curva do pescoço, cercado por chamas cor de laranja como numa história em quadrinhos. Sei que isso não devia me entristecer, sei que hoje em dia as tatuagens constituem apenas mais um acessório, como anéis de dedão e pulseiras como algemas nos pulsos. Atrizes ganhadoras de Oscar mandam tatuar textos budistas nas costas. Todas as garotas que usam jeans de cintura baixa têm um desenho floral ou uma borboleta pairando acima do rego. Ainda assim, a ideia de algo tão permanente nesse garoto triste e revoltado de 16 anos me dá um nó na garganta. Isso e a certeza de que a tatuagem deixaria Hailey bastante magoada. Hailey, que ficou praticamente inconsolável quando Russ raspou pela primeira vez a penugem do seu bigodinho. De todo jeito, ele não vai poder voltar atrás, e não há nada a fazer senão apoiá-lo.
- Legal comento sem entusiasmo.
- Você sabe o que é? me desafia Russ
- Um espermatozóide em chamas?
- Vá se foder.
- Um meteoro.
- É um cometa explica ele.
- Qual é a diferença?
- Como é que eu vou saber?
- Certo. é um cometa.
Ele acaricia a tatuagem como quem protege algo.
- É o cometa Hailey.
As lágrimas me enchem tão rápido os olhos que não tenho como contê-las.
- Sei que o nome verdadeiro não escreve assim diz Russ, repentinamente acanhado. Mas eu gostei da imagem, sabe? O cometa Hailey. E ela vivia na minha cola por causa dos meus erros de ortografia. De certa forma, faz sentido." - pág 29
"Existem coisas que jamais devem ser ditas em voz alta, nem para nós mesmos, pecados mentais que podemos apenas arquivar, na esperança de nos redimirmos numa data futura." - pág 154
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