Michele Custódio 02/01/2017Polícia que mataBarcellos, Caco. Rota 66: A história da polícia que mata. 37. Ed. São Paulo: Globo, 2002. Pag. 274.
Um trabalho jornalístico de pesquisa e apuração que durou 22 anos. Uma investigação sobre crimes da polícia militar, desde a sua criação em 1970 até 1992, ano em que Caco escreveu o livro.
O livro é dividido em três partes: Rota 66, Os Matadores, Os inocentes. Na primeira parte ele foca em contar sobre o caso Rota 66, que envolvia vários policiais da rota, a elite da polícia militar, em um caso de assassinato de três jovens da classe média em 1975.
Esse caso teve muita repercussão na época, pois as vítimas não se encaixavam no perfil dos matadores, eram brancos e ricos. Barcellos narra todo o acontecimento de forma cinematográfica, desde as falas, aos caminhos que os envolvidos fizeram, é como se o leitor estivesse assistindo a tudo, onipresentemente.
Na segunda parte do livro encontramos uma lista elaborada pelo jornalista com os 10 maiores matadores da polícia militar. O trabalho de pesquisa envolvia quatro fontes, o jornal Notícias Populares, que noticiava por meio de notas todos os tiroteios que resultaram em morte envolvendo a policia militar e civis. O arquivo do IML da cidade de São Paulo, com fotos e causas da morte de todos os civis que morreram nos supostos tiroteios com a polícia. Familiares, amigos dos civis mortos e por fim os registros da polícia com os antecedentes criminais dos civis identificados.
Os matadores da polícia militar apresentavam características em comum com os perseguidores de militantes da época da ditadura. Abordavam majoritariamente pessoas negras e pardas, jovens e do sexo masculino. Também na maioria das vezes as vítimas tinham tiros em lugares vitais e com marcas de tiro a curta distancia, ou seja, à queima roupa. Os matadores também tinham o costume de se livrar dos documentos das vítimas, dificultando assim a identificação.
Outro ato criminoso era o de violar o local do crime, retirando o corpo da vítima com a justificativa de que estava socorrendo- a e prestando assim um ato humanitário. Essa violação da cena do crime impede a perícia técnica de fazer uma apuração do ocorrido.
Por fim, na terceira parte do livro o repórter faz um levantamento estatístico de sua pesquisa, com mais de 4000 mortos em supostos tiroteios, 3.523 foram identificados, desse número apenas 1.496 apresentavam alguma passagem nos registros policiais. Ou seja, 2.027 pessoas inocentes foram mortas pelos matadores da PM num período de 22 anos.
O livro trás uma sensação de impotência e desconfiança de vários casos noticiados na televisão, principalmente os transmitidos pelos programas policiais sensacionalistas que vemos por ai. Durante todo o livro Barcellos reforça a ideia de que apenas uma minoria comete tais crimes dentro da corporação militar, porém essa minoria é protegida e impune em muito dos casos apurados.
Durante toda a leitura estamos presos em uma narração com características de filme, o autor consegue transmitir dados, relatos pessoais e dos entrevistados de maneira muito natural, contando uma história que nem sempre segue uma linha cronológica definida.