Fernanda 27/08/2023
Desde que li O Cortador de Pedras, de Camila Lackberg, me identifiquei com seu estilo de escrita. Comecei a ler A Gaiola de Ouro cheia de expectativas e a história não decepcionou. Logo no início, a comunicação de um assassinato chocante. Depois há um recuo e os capítulos se alternam entre o presente e o passado de Faye, a protagonista, mostrando como a menina traumatizada que se tornara uma jovem inteligente, decidida e dona de um espírito genuinamente empreendedor se transformara em uma dona de casa submissa e conformada com o papel de esposa troféu de um multimilionário.
O mundo de Faye agora era repleto de dinheiro e poder, tudo o que ela e Jack haviam sonhado desde que se conheceram na faculdade. Por que sentiria falta de sentar à mesa de um bar com a amiga Chris, pedir as bebidas mais baratas e dar risadas altas, se agora frequentava os mais luxuosos restaurantes e era reconhecida por causa do sobrenome? Para que lembrar com saudade de quando ela, Jack e o amigo Henrik eram três jovens pobres, mas cheios de sonhos, se agora podia ter tudo o que sempre quis? Faye tinha um marido bonito, uma filha encantadora e uma vida perfeita. Isso só foi possível porque ela interrompeu os estudos para que Jack pudesse se formar. A empresa que ela havia planejado nos mínimos detalhes agora era sucesso absoluto, então, que mal havia se ela a deixasse nas mãos de Jack e todo o crédito fosse dado a ele? Tudo era dos dois, não era? Se Jack estava ausente e a criticava com frequência, era unicamente porque trabalhava demais e vivia exausto; a culpa era dela, que sempre cometia erros bobos. Aquela sensação de estar em uma gaiola de ouro provavelmente era bobagem... Era assim que Faye pensava até se ver traída, abandonada e sem um tostão. Só que Jack não tinha noção do tamanho da fúria de uma mulher com um passado obscuro e muita sede de vingança.
Uma história ágil, inteligente, com personagens muito bem construídos e um enredo envolvente, sem muitas pontas soltas. A protagonista flutua entre os papéis de mocinha e anti-heroína com muita naturalidade, o que torna o papel bastante convincente e desperta no leitor sentimentos contraditórios. Os personagens secundários não se limitam à condição de meros coadjuvantes: a autora explorou o potencial de cada um e lhes deu a importância merecida. A personagem Chris, por exemplo, que inicialmente seria somente a melhor amiga da protagonista, proporciona ao leitor uma história paralela bastante emocionante.
Não é uma narrativa cheia de ação ou reviravoltas repentinas, é uma trama de poder, dinheiro, sexo e aparências, em que cada camada descoberta revela mais um pouco dos bastidores não tão glamourosos da vida dos personagens.
Ansiosa para ler Asas de Prata, o próximo volume da série.