VerAnica 12/04/2024GenialNão é a toa que Machado de Assis é o patrono da literatura brasileira, o autor é realmente diferenciado. Já li Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, na adolescência. O Alienista foi meu primeiro contato com o autor depois de me tornar adulta, e já pretendo me aventurar ainda mais em sua bibliografia.
Essa novelinha tem tantas camadas a ser exploradas, que parece impossível que um texto tão curto aborde tantos temas importantes com uma ironia e humor que são típicos do autor.
A crítica evidente ao cientificismo, onde um narrador, supostamente embasado em um metodo científico (análise das crônicas antigas de Itaguaí), nos transmite a história de um homem que viveu e morreu pela ciência. Simão Bacamarte não foi nem o herói que muitos viam nele, tampouco foi o vilão. Era, como ele mesmo se definiu por diversas vezes, um homem a quem apenas a ciência importava, portanto, qualquer sentimento ou interação humanas eram inferiores perto de seus anseios científicos. O genial desfecho onde ele percebe que o único louco que já houve em Itaguaí era ele mesmo é a prova de sua "abnegação" pela ciência, pois ele não hesita nem por um instante em internar a si próprio.
O retrato do funcionamento da máquina pública e dos políticos da novela nos fazem quase esquecer que esse texto foi escrito a mais de 100 anos, dada a atualidade da crítica. Itajaí conta com uma câmara de vereadores onde impera um sistema tão forte e arraigado de corrupcão dos anseios públicos e privilégio dos benefícios particulares. Isso poderia ter sido escrito hoje.
Além disso, a falsa simetria que o autor faz entre a Revolta dos Canjicas e a Revolução Francesa é muito divertida, mostra que Machado não era muito partidário revoluções para mudanças sociais.
A novela traz ainda diversas referências bíblicas e a filósofos gregos, as notas de rodapé da edição da Antofágica foram muito importantes para a completa compreensão do texto.
Machado de Assis genial, só leiam!