malu :) 30/01/2022
Preservemos o avesso
"É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina o modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, têm de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos."
'O avesso da pele' é a típica obra que te prende e não te deixa escapar. Cada página, linha e entrelinha estão aí para revelar minuciosamente a vida, a morte, os amores e arrependimentos de Henrique, e merecem ser lidas.
Uma vez me disseram que o que deixamos para trás não são herançass e, sim, as memórias de quem fica. Sinto que o livro é um retrato muito além do que é mera história. Abordando assuntos como o racismo, a construção social e política das discriminações e expondo os desafios diários das personagens principais, Jeferson Tenório orquestra o despertardo leitor a assuntos que devem ser discutidos, expostos e questionados todos os dias.
E como se isso já não fosse o suficiente para fazer arrepiar cada pelo do meu corpo e subirem lágrimas aos olhos, também vi que, assim como Pedro, eu tenho medos. Não gosto da morte. Não gosto de partidas. Mas Henrique está me ensinando a não ter medo da morte. "E não gostar do fim é imprescindível quando se pretende algo da vida".