Alessandro232 30/12/2020
Um thriller de mistério que prende a atenção do leitor, mas cheio de problemas
Clube Intrínsecos
Eu já tinha ouvido falar muito dos thrillers de mistérios de Joel Dicker. No entanto, eu tinha receio se iria gostar ou não deles. Apesar, de Dicker ter muitos fãs, também li muitos comentários negativos de seus livros. Por ocasião de me tornar assinante do clube intrínsecos - não por causa dele, mas pela publicação de "Em Águas profundas", de Patricia Hightmith e pelo fato de que no mês de dezembro seriam dois em vez de um livro, eu li "O Enigma do Quarto 622" de Joel Dicker.
Eu tinha altas expectativas com relação a esse romance de mistério/suspense. A premissa dele é bem interessante. Temos uma narrativa moldura, na qual é o protagonista é o próprio Dicker. Após a morte do editor de seus livros e "levar um fora' da namorada, ele resolve tirar férias em hotel de luxo para esquecer os problemas, mas descobre que nesse local há quinze anos ocorreu um misterioso assassinato que permanece sem solução.
Paralela a essa trama, há outra em flashback na qual acompanhamos uma série de eventos que estão relacionados a misteriosa morte do quarto 622. Dessa forma, somos apresentados a uma galeria de personagens que direta ou indiretamente estão envolvidos com os eventos que deram origem ao crime.
"O Enigma do Quarto 622" prende a atenção do leitor. Contudo, apesar da trama envolvente, a escrita de Dicker é bastante "pobre"- na falta de um termo melhor . É impressionante a quantidade de palavras- clichê que ele usa, principalmente para descrever um cenário. Dá-lhe metáforas do tipo " Genebra amanheceu verdejante esta manhã"....e outras coisas do tipo. Dicker também não é nada modesto quando fala sobre seu ofício. Ele diz em muitos trechos que seus livros sempre vende muito bem e ele é considerado um escritor de grande talento. Ou seja, para o autor a literatura é acima de tudo um grande negócio, o que para mim é uma ideia discutível.
Eu deixaria a falta de modéstia de Dicker de lado, e sua escrita embelezada, se não fosse por um dos grandes defeito da trama mirabolante, que se assemelha em muitos aspectos a uma novela das oito: todos os personagens têm a profundidade de um pires, principalmente às mulheres. A protagonista, Anastasia é "deslumbrante" - nas palavras dos próprio escritor, mas burra como uma porta. Seu marido, Macaire, mesmo sendo banqueiro financeiramente bem sucedido não fica atrás: é um verdadeiro pateta que não enxerga um palmo na frente do nariz. O único que se salva é outro banqueiro, Levovitch, seu adversário na disputa pelo amor de Anastasia. bem mais inteligente e interessante que os outros dois.
Além disso, para mim, o aspecto mais negativo da trama é a quantidade exagerada de reviravoltas. Sem querer dar spoilers, Dicker durante o desenrolar da narrativa cria uma sucessão de revelações "surpreendentes" até a conclusão também muito surpreendente de fazer inveja a qualquer roteirista de cinema. O problema é que muitas delas são muito inverossímeis e vai depender do leitor aceita-las ou não. Eu me incluo no segundo grupo e acho que ele forçou muito em muitas situações. O livro me divertiu em algumas passagens por serem bastante "nonsenses", mas o enredo ao ser analisado com mais profundidade, não faz nenhum sentido.
"O Enigma do Quarto 622" é um livro que funciona somente com entretenimento, do tipo ideal para se ler nas férias. Seu enredo mirabolante é um pastiche de histórias de Agatha Christie, com elementos de livros de espionagem de John Le Carré e alguns lances surpreendentes do filme "Missão Impossível". Mas, mesmo sendo um livro sem muitas pretensões, fiquei decepcionado com a escrita pobre de Dicker. Para quem é considerado por alguns um dos melhores autores de em thrillers de suspense/ mistério da atualidade, em "O Enigma do Quarto 622", ele deixou muito a desejar. Para mim, no gênero, eu prefiro os grande mestres que investiam em tramas inteligentes e verossímeis, tais como Agatha Christie ou Umberto Eco, cuja romance "O Nome da Rosa" é uma obra-prima, no que se refere a criação de atmosfera e mistérios envolventes.
Sobre a edição: segue o padrão da editora, com capa dura e folhas amarelas. Vem acompanhada de uma revista com textos bem interessantes sobre o tema.