beatriz 05/07/2023
A decadência da magia
Eu resolvi não fazer resenha dos dois primeiros livros, mesmo que eu tenha amado e favoritado Ano Um. Queria tirar as devidas conclusões após a leitura completa da trilogia e acredito que fiz certo, porque as minhas opiniões foram se modificando totalmente.
O leitura do primeiro livro foi uma experiência arrebatadora para mim. A primeira frase já me prendeu de cara, um enredo interessante e cheio de personagens cativantes, além da escrita fluida e instigante. A única coisa que me desagradou nele (e na trilogia como um todo) foi o tamanho dos capítulos. Isso porque um livro de 400 páginas tem seu tamanho dobrado com capítulos de 20/30 minutos. É uma eternidade. No mais, eu amei.
A experiência com o segundo livro também foi muito agradável. Apesar de não concordar com o protagonismo da Fallon, já que, para mim, as verdadeiras protagonistas foram e sempre serão a Arlys, Lana e Fredinha, achei o desenvolvimento da Fal excepcional. Nós acompanhamos A Escolhida durante a sua infância até a vida adulta e conseguimos enxergar o amadurecimento decorrente das renúncias, perdas e deveres. Ela é uma personagem muito centrada e querida com todos. No entanto, acredito que a autora tenha começado a perder a mão com o vínculo desconexo entre o Duncan e a Fallon, apesar de gostar muito desse personagem nesse momento. Algo que também começou a me incomodar nesse livro foi o sumiço de personagens tão queridos por mim, mas eu compreendia que ali era o momento para a construção da Fallon e toda a carga que ela viria a carregar.
Entretanto, contudo, todavia... O terceiro e último livro fecha essa trilogia com chave de merda, o que é uma pena. A autora tem um problema com o excesso de personagens que ela inclui no enredo e que acabam não agregando em muita coisa, só na nossa dificuldade para lembrar de tantos nomes e características mágicas. Tudo bem, compreendo que se trata de um universo distópico de reconstrução de um mundo abalado que requer muitos personagens mesmo. Ok, mas ela some com todos os outros personagens fundamentais e tão cativantes do primeiro livro. O excesso de personagens e de descrição de paisagens acaba comprometendo algo essencial para o enredo de um livro distópico: cenas de ação. A Norta Roberts tem uma escrita fenomenal e uma capacidade de nos prender à leitura. Porém, as cenas de ação são muito corridas e até mal escritas. A resolução de conflitos é muito rápida e sem grandes consequências, o que compromete toda a dinâmica da leitura, visto que a autora investe em outros aspectos não tão interessantes para a trama.
Bill Anderson, Eddie, Joe, Arlys, Fredinha... Ou somem, ou são reduzidos a estereótipos péssimos. A Fredinha, por exemplo, uma das minhas favoritas, é reduzida ao status de mãe que adora fazer bebês. O Ethan, que é um querido superfofo, é reduzido ao garotinho que fala e cuida de animais. Pera aí, né? Eles tinham muito potencial. Isso me desagradou demais, poderia falar horas sobre...
Uma coisa que posso ter interpretado errado e até refleti sobre, é a distinção dos relacionamentos entre Mallick, Fallon e Duncan. Em todos os momentos com a Fallon, o Mallick cobra demais e sempre a lembra dos deveres e obrigações que ela carrega sendo A Escolhida, não há uma naturalidade nas dinâmicas entre eles, já que tudo é orientado pelos ensinamentos. Já com o Duncan, é uma relação de total brotheragem e homens suportando homens, embora o Duncan também tivesse muitas responsabilidades grandiosas. Fiquei p da vida com isso porque a Fallon abriu mão de muita coisa sendo muito jovem e nem uma amizade leve o Mallick pôde oferecer.
Ainda sobre o tema Duncan, que machistinha de primeira categoria ele se tornou, né? Outra pisada na merda que a autora deu. Enquanto a Fallon se resguarda para o destino que a aguarda, esse gatão passou o pau em metade de Nova Esperança e achou a outra metade gostosa e atraente. Pelo amor de deus, que machinho sem graça que ele se mostrou ser. Tonia e Hannah pisam com bondade nesse songo mongo.
De forma geral, acredito que vale muito a pena ler a trilogia, mesmo com seus altos e baixos. São livros pouquíssimo conhecidos, embora tenham uma qualidade acima dos hypados que vemos hoje em dia. O terceiro não foi meu favorito dos três e tenho muitas críticas, mas gostei bastante e recomendo para todos.