Coisas de Mineira 28/05/2021
A ascensão da Magia é o terceiro livro da distopia Crônicas da Escolhida, da autora Nora Roberts lançado no Brasil pela editora Arqueiro. Por se tratar de uma resenha da finalização da trilogia, pode conter spoilers dos livros anteriores, Ano Um e De sangue e Ossos.
Em Ano um, acompanhamos o início de uma pandemia de origem mágica, que foi denominada A catástrofe, responsável por acabar com mais da metade da população da terra através de um vírus que rapidamente se espalhou. Tudo aconteceu quando uma barreira mágica foi inadvertidamente rompida, liberando essa magia da escuridão. Poderes adormecidos despertaram e os seres humanos escolheram seu lado: seja na luz, outros nas trevas. Havia os humanos que eram imunes ao vírus, e alguns deles sentiram medo desses novos poderes despertados; outros, sentiram ódio.
“O outro, o diferente, sempre provocaria o ódio em alguns corações. Os que vieram a ser conhecidos como Incomuns enfrentavam o medo e o ódio daqueles que os caçavam.”
De Sangue e Ossos traz a jornada d’A Escolhida, uma menina concebida quando a escuridão rompeu, surgindo como um farol de esperança, e acompanhamos seu desenvolvimento. Agora, chegou o momento decisivo, da luta da luz contra a escuridão.
Fallon está centrada em seu objetivo, e para isso ela precisa aumentar seu contingente para a batalha. Sendo assim, junto com os moradores de Nova Esperança, vão reconquistando cidades e fazendo novas alianças, desafiando o governo, os rapinantes, os Incomuns Sombrios e os Guerreiros da Pureza. E em meio a estratégias e busca de suprimentos, pessoas valorosas vão sendo encontradas e incorporadas ao grupo que busca restaurar o escudo místico.
Entretanto, mesmo que Fallon esteja lutando para que as trevas sejam derrotadas, ela sabe que precisa ser forte, já que a escuridão está sempre rondando e a chamando. Ainda assim, Fallon pode contar com Duncan, seu parceiro ancestral, para estar ao seu lado e escolher sempre o caminho da luz. Mas, com as batalhas iminentes, ela também deverá aprender a delegar responsabilidades, mesmo com preocupação por aqueles que ama.
“Solas don Saol … Luz para a vida.”
Eu sempre fico bem ansiosa quando vou ler uma finalização de série, e não seria diferente com A Ascensão da magia. Fallon trabalhou arduamente para ser digna da profecia que a indicou como A escolhida, e ela recebe essa responsabilidade com serenidade. Não sem medo – por perder alguém que ama, ou por não conseguir derrotar as trevas, mas ela acredita na família e nos amigos. Sendo assim, esse é o primeiro ponto a considerar: é uma história sobre como um grupo se torna forte quando têm objetivo em comum.
Ao mesmo tempo, esse é um ponto de fraqueza do livro – ao menos para mim: são personagens demais, alguns desde o primeiro livro, e muitos que vão surgindo ao longo do caminho. Alguns são perdidos, alguns se perdem, e eu acabei não conseguindo acompanhar todos eles. Optei por ficar com o grupo inicial de Ano Um, que de fato são o principal ponto de apoio de Fallon.
A ascensão da magia traz muita dor, e acredito que algumas passagens podem ser gatilhos, afinal, muitos humanos com habilidades mágicas são capturados e passam por experimentos cruéis em laboratório, alguns deles quase uma vida inteira de reclusão e tortura, e nem sempre é possível sair de uma experiência dessas mantendo a sanidade.
Também me incomoda a previsibilidade de Nova York como palco central dessa luta – acaba sendo roteiro batido. Entendo que outros lugares são mencionados – como queria um mapa…, mas além de mencionar a Escócia, além de como outros continentes enfrentaram a Catástrofe, esse embate entre bem e mal acontece apenas nos Estados Unidos. No máximo, recebem uma ajuda de um grupo do Canadá. Poderíamos ter muito mais…
Vale ressaltar que o grande foco ficou nas reuniões para discutir estratégia e conquistas menores, tomando grande parte do livro, e deixando pouco espaço para a batalha final. Aliás, foram 3 grandes batalhas, resolvidas em pouquíssimas páginas. Foi muito preparo para tão pouca ação. A batalha final trouxe uma pincelada a mais, mas os vilões, no final, eram bem fracos. A construção desses personagens nos livros anteriores foi muito boa, mas pouco aproveitados por aqui.
As relações entre os personagens de A ascensão da magia são destaque, também. A amizade que surge entre as pessoas de Nova Esperança é muito bonita. Gosto também da forma como se desenrola o romance entre Fallon e Duncan, foi instantâneo, mas os dois demoram muito a dar o braço a torcer. Melhor ainda é o pai dela, sempre presente e sempre desconfiado… Simon é ótimo. As mulheres têm grande destaque na trama, e um grupo de amigas, que se formou lá atrás, também trazem discussões leves, mostrando para Fallon que em alguns momentos, nada como tomar uma taça de vinho com as amigas para falar de amenidades.
E, mesmo sendo A escolhida, e por conta disso nossa protagonista parecer determinada em excesso, o que vemos na verdade é uma mulher com limitações, e que aprende a respeitar essas limitações. Fallon é uma líder que se torna respeitada, corajosa, atenciosa, vulnerável, e que perde a fé em determinado ponto, não sentindo vergonha em se recolher e buscar a esperança dentro de si novamente. É muito fácil simpatizar com ela.
Enfim, apesar da previsibilidade da história, acredito que é uma distopia que traz discussões importantes e válidas, sobre como os seres humanos podem buscar vários caminhos quando estão em perigo, acima de tudo sobre como a solidariedade e a esperança são características intrínsecas, sobre a importância de nos cercamos por amigos e família, por acreditar na esperança! Já estou com saudades…
Por: Maisa Carvalho
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