spoiler visualizarAna 21/10/2023
Não funcionou muito bem para mim...
Quem nunca pegou um livro de drama familiar, com uma sinopse bem atrativa, que tinha tudo para dar certo, e se deparou com uma história bem morna e nada marcante? Foi isso o que aconteceu comigo ao ler Somos Todos Adultos Aqui. O texto abaixo pode conter spoilers, uma vez que vou precisar contar alguns detalhes da narrativa para expor o meu ponto.
Astrid Strick é uma senhora de 68 anos que vive em Clapham, uma cidade do interior onde todo mundo se conhece e é impossível segurar qualquer fofoca. É uma vida pacata, no fim das contas, já que seus filhos estão criados e ela não deve satisfação nenhuma a mais ninguém. Astrid só sente que deve mudar o rumo da sua vida após presenciar um acidente fatal, envolvendo uma conhecida. É só nesse momento que ela percebe, que, na realidade, sua vida é um verdadeiro caos. Por exemplo, ela nunca foi uma mãe amorosa, então não tem uma conexão real com nenhum dos filhos. Tanto que eles nem sabem que ela se apaixonou de novo, dessa vez por uma mulher! E ela também não sabe inúmeras coisas sobre eles.
E é basicamente esse o enredo de Somos Todos Adultos Aqui: uma mulher tentando mudar sua relação com os filhos depois de muitos anos, após perceber que pode morrer a qualquer momento. Claro que, para isso, aprendemos um pouco mais sobre cada um dos membros: Elliot é o filho mais velho, casado e com dois filhos pequenos, sempre se sentiu negligenciado pela mãe; Porter é a filha do meio, bem simplista, e depois de muitas decepções amorosas resolve ser mãe solo; Nicky é o caçula, vive em Nova York com a esposa e a filha e desistiu de uma promissora carreira de ator. São personagens simples, vivendo suas vidas igualmente simples.
A minha grande questão com esse livro é que nada acontece. Não existe nada arrebatador, nenhuma reviravolta, nada que faça com que seja uma leitura incrível. E acredito que esse seria o menor dos problemas, até porque nem tudo precisa de reviravolta, se os personagens não tivessem a profundidade de um pires. Os dramas individuais são muito comuns e até apáticos, diga-se de passagem. Não me afeiçoei a nenhum deles, com exceção, talvez, de Cecelia, filha de Nicky e neta de Astrid. O enredo envolvendo ela e uma amiga, uma personagem trans, foi a única coisa que me manteve presa a leitura e ainda assim não foi muito bem desenvolvida, ao meu ver.
A realidade é que, como são pontos de vista de vários personagens, faltou desenvolver melhor cada um deles. Acho que até a questão principal desse livro, que são as relações familiares, não foi muito aprofundada. Acredito que o intuito de Somos Todos Adultos Aqui é mostrar um pedaço da vida de uma família, que pode ser como qualquer família que existe. Mas senti falta da resolução dos conflitos no final, ainda que não fossem muito complexos. As páginas passam de forma muito lenta e não levam a lugar nenhum, entendem?
Até agora não entendo o propósito real dessa história, não entendo aonde Emma Straub queria chegar. Por exemplo, Elliot é um babaca com a esposa e negligente com os filhos o livro inteiro e não deu indícios de mudança no final... Sem contar que é extramemente homofóbico, uma vez que não aceita o novo relacionamento da mãe. A Porter é uma mulher, grávida, a poucos meses de se tornar responsável por uma nova vida, mas totalmente inconsquente... O Nicky me parece o mais estável, ao mesmo tempo que não abandonou a juventude por completo. Eu sei lá, sabem? Será que são realmente todos adultos nesse livro? Será que o propósito desse título é ser irônico? O que é ser adulto, no fim das contas?
Eu não posso nem dizer que achei o livro ruim, porque simplesmente não senti nada lendo. Porque quando consideramos um livro ruim, sentimos pelo menos raiva ou certa indignação durante a leitura, mas eu realmente não senti NADA com Somos Todos Adultos Aqui, nada bom, nada ruim. É simplesmente uma história que, daqui um mês, vou ter apagado da minha mente por não ter um pingo de relevância, para o bem ou para o mal. Agora, para quem simplesmente gosta de acompanhar recortes do dia a dia de uma família, sem se importar exatamente com o rumo da história ou com a resolução de conflitos, a experiência pode ser completamente diferente. É pagar para ver!
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