spoiler visualizarCarolina 13/06/2013
Será que somos Laranjas Mecânicas?
Laranja Mecânica é o tipo de livro que te faz pensar. Essa é a função dele. Questionar sobre coisas que você nunca tinha se perguntado, e te fazer refletir sobre tais questões. A função do livro é te fazer questionar, e, na minha visão, não deixar você se tornar uma laranja mecânica.
O livro é narrado por Alex, um adolescente anarquista, que faz o que quer na hora que quer. Estupra, assalta, espanca e todo o tipo de "ultraviolencia" como ele mesmo chama. Que também tem seu lado "cult", ele ama música erudita, e escuta sempre, seu favotiro é Beethoven, e sua sinfonia preferida é a Nona de Beethoven. É meus druguis, esse é o Nosso Humilde Narrador. O livro é feito numa linguagem natsat (adolescente), típica das gangues que Burgess criou no universo dele, baseado nas reais que ele observou. A linguagem da um ar de estranheza ao livro, como nele mesmo diz, para que entremos de cabeça nessa mundo que o autor nos proporciona.
Bom, ao decorrer do livro, Alex narra suas aventuras com seus velhos druguis, que são tão tranquilos quanto ele. Ele é o líder da gangue. Até que eles se revoltam e acabam não gostando da liderança dele e traem ele, levando a polícia numa casa que eles tinham invadido, resultado: Alex mata uma velhinha que morava na casa e acaba preso. Estando preso por quase dois anos, ele acaba sendo levado pra testar um novo tipo de "cura", se podemos dizer assim, para a violência e o lado mal dele. O procedimento segue da seguinte forma; Alex é drogado com algo pra fazer ele passar mal e se sentir fraco e é forçado a assistir filme que mostram todo o tipo de violência que ele praticava antes. Assim, ele vai associar a violência que ele vê ao estado que o corpo dele se encontra e vai passar a ter repulsa pela violência que ele causava e todo o mal, e assim acontece. Ele é solto, e muitas pessoas vão até se vingar dele por tudo o que ele fez, e ele não reage, ele tenta fugir dessa violência, ele vira uma pessoa que ele não era. E o curioso do procedimento que é feito nele, é que a trilha sonora dos filmes que eram passados é Beethoven, pior, é a Nona de Beethoven, então toda vez que ele escuta ele faz a associação e acaba sem ouvir uma das coisas que dava mais prazer a ele que era a música. Pra resumir, ele tenta suicídio depois de ser forçado a ouvir Beethoven e vai parar no hospital, onde passa por mais um procedimento e se recupera, virando o Nosso Humilde Narrador novamente. Ele arruma novos druguis e passa a fazer a ultraviolencia horrorshow. Só que ele percebe que está ficando velho, que a juventude já se foi dele e acaba desanimando com toda essa violência e passa a querer algo mais da vida dele. O final do livro narra Alex, dizendo que agora quer ter uma esposa, quer ter um filho, uma família. E que está velho demais pra essa coisa toda de ultraviolencia, e agora está passando pra outra fase da vida dele.
As reflexões que esse livro nos proporciona é o que fazem dele ser tão incrível. Todos sabemos que não é normal todo o mal e violencia que Alex causa no decorrer do livro, e que ele ficar "bom" para a sociedade é o certo. Alex se torna a própria Laranja Mecânica, no livro, tem a ideia de que somos frutos de algo, somos "laranjas", e Alex se tornou uma Laranja Mecânica, pois virou algo robótico, algo que os outros queriam que ele fosse, algo mecânico, sem escolha própria. Imagine todos os presos ficando "bons" como ele ficou? Não existiria vandalismo nem nada do que agredisse a sociedade. Mas também não existiria liberdade. Essa é a questão. O que seria de uma pessoa sem sua liberdade de escolha? Uma parte do livro, num contexto que não vem ao caso nessa resenha, diz o seguinte:
"Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?"
Ou seja, será que uma pessoa que tem direito de escolha, e escolhe o mal, é melhor do que outra que não tem esse direto e tem o bem imposto a si? Será que devemos ser robôs que fazem tudo o que o Governo impõe para nós, sem sermos livres o suficiente pra escolher? No final do livro, Alex desiste de tanta violência, o que é uma forma de dizer que ele escolheu não ser mal quando teve a liberdade para tal. Mas isso não significa que aconteça com todo mundo. É tanto que ele diz, que o próprio filho dele pode ser como ele, e o filho do filho dele, e ele não pode fazer nada para impedi-lo. E ainda existem todos os druguis nas ruas que não tinham pensado como Alex. Então qual será a solução para o problema?
O certo, no final das quantas, é deixar que as pessoas sejam livres para ser o que elas são, o que elas escolhem ser. E o que Burguess quer nos passar com isso, é para nos questionarmos sobre o mundo em que vivemos e as escolhas que fazemos. Será que estamos usando a liberdade que temos? Será que deixamos o sistema nos controlar? Será que estamos sendo quem queremos ser?
Enfim, o livro deixa aberto, deixa sua cabeça aberta para a interpretação que você conseguir fazer dele. Leia e faça a sua, faça suas reflexões e extraia o máximo que puder de conhecimento dessa tão horrorshow obra-prima que Burguess nos deixou.