sofianves 25/02/2022
Bem desenvolvido, estranho e visceral.
Laranja Mecânica é um livro altamente reflexivo e com fortes críticas sociais sobre governos totalitários, punições, dignidade humana e direito à liberdade. É narrado em primeira pessoa por Alex, o protagonista adolescente que consegue ser o agressor e a vítima em uma única história, e possui uma escrita sincera e bastante detalhista. Aliás, meus glazis brilham ao dizer que ter o próprio Alex como narrador da história tornou tudo muito horrorshow, pois isso permite ao leitor se sentir um próprio drugui.
É muito interessante o modo como o Anthony Burgess conseguiu construir todo um arco de total inconsequência juvenil, sofrimento, lavagem cerebral, cura e amadurecimento. Para mim, foi inevitável não simpatizar com o Alex e torcer para que tudo acabasse bem apesar dos pesares.
Na obra, as autoridades estão cientes de que o sistema carcerário não recupera os jovens, por isso eles desenvolvem a técnica Ludovico, um experimento científico e tecnológico que promete uma cura comportamental. Entretanto, tal medida faz com que o indivíduo perda seu poder de escolha, seu livre-arbítrio. Sendo assim, fica a reflexão: será que não seria melhor ser uma laranja podre do que ser uma laranja mecânica?
A linguagem Nadsat, extremamente peculiar, deixa a leitura ainda mais interessante, pois faz com que o leitor adentre profundamente no estilo de vida levado pelo Alex e seus druguis. É preciso ter estômago forte para encarar determinadas partes.
Confesso que me decepcionei com o final, pois esperava algo marcante, um acontecimento de fazer fechar o livro pensando "nossa! O que foi isso aqui!?", entretanto isso não aconteceu. O final foi calmo, o oposto daquilo que eu esperava, e isso não me agradou.
Aqui o autor nos faz pensar e repensar sobre a maioridade penal, sobre a dificuldade de ressocialização do sistema prisional e ainda provoca nosso senso de moralidade, ética e justiça. Não deixando de lado a questão da influência externa, uma vez que não é só modificar o comportamento do delinquente, é também preciso analisar o ambiente, os fatores externos.
Estou convencida de que esse livro, embora repleto de gatilhos, deveria ser de leitura obrigatória para todos. Há um misto de sensações, mas o incômodo é sempre constante devido à ultraviolência.
No mais, fica a reflexão que não me deixará parar de pensar nesse livro: De que vale uma "bondade" imposta, mecânica, que foge ao livre-arbítrio?
Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor que um homem que teve o bem imposto a si?
O que vale mais: Transformar as pessoas em robôs, bonequinhos de ventríloquo, ou preservar a liberdade e a dignidade humana?
E como eu já disse: Antes uma laranja podre que uma laranja mecânica.