@mulheres.e.literatura 14/02/2024
Realidade ou ficção?
Em 'A outra garota negra' a protagonista Nella é uma jovem adulta que trabalha como assistente em uma famosa editora de livros. Ela é a única pessoa negra no trabalho, e está cansada disso. Um dia, para sua enorme surpresa, uma nova assistente é contratada, Hazel, também uma jovem adulta negra, tal como Nella. Porém, o que parecia ser a realização dos seus sonhos de ter finalmente um apoio em um espaço repleto de pessoas brancas alienadas, tem como desdobramento uma série de situações ruins, constrangedoras e até mesmo perigosas.
Hazel é simpática com todas as pessoas, ela é tranquila, legal, organizada, ela tem paciência com as microagressões praticadas por seus colegas brancos. Em pouquíssimos meses, ela avança no seu cargo muito mais que Nella, que já está lá há mais de 2 anos. Em contrapartida, Nella começa a receber bilhetes estranhos que a ameaçam (?), que falam para que ela saia deste trabalho.
Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo faz com que nossa protagonista entre em uma espiral de medo, paranoia e desespero. Enquanto teme perder seu emprego, precisa lidar com seus conflitos com Hazel, que ao mesmo tempo em que é acolhedora e divertida com a colega, toma atitudes que a prejudicam no trabalho. Além disso, Nella também tenta descobrir quem é a pessoa responsável pelos bilhetes anônimos, enquanto revisita muitos momentos passados da sua vida. Em paralelo a história também nos apresenta outras personagens, como Kendra Rae e Diana (a versão prévia, digamos assim, da dupla Nella-Hazel) e Shani. Ao longo de todo o livro me perguntei, afinal, o que estava acontecendo com estas personagens, e qual a relação entre elas.
Para evitar dar spoilers, omito a reviravolta meio ficção científica que a obra tem como desfecho, mas falo um pouco sobre o que ela pode simbolizar: as maneiras como pessoas negras lidam com todas as formas de violênc1a racial as quais estão expostas diariamente. O quanto é simplesmente tão cansativo, até mesmo adoecedor, e como algumas preferem buscar maneiras de ficarem um pouco "anestesiadas" para conseguirem sobreviver e prosperar, por sentirem que não há outra forma possível de conseguirem ocupar lugares de liderança, conseguirem chegar a um cargo de sucesso, para quem sabe, transformarem alguma coisa (ou não...).
Apesar de os personagens brancos serem meros coadjuvantes na trama, eles se fazem presentes ao fundo da história, manipulando e se articulando para que consigam manter seus privilégios.
Poderia dizer que este livro é uma ficção científica, uma distopia, mas na verdade, ela reflete tanto da nossa realidade, que qualquer semelhança não é mera coincidência.
site: https://www.instagram.com/mulheres.e.literatura/