TatianaTati 31/05/2022"Toda dor precisa ser sentida"Li esse livro para o clube do livro da Samanta Belletti e e eu me surpreendi bastante com a obra. Não esperava encontrar tantos personagens com suas próprias histórias, o entrelaçamento com a trajetória da Lily, a maneira como os preconceitos e as questões de representatividade são retratadas. Gostei do ritmo da narrativa, é divertida, mas com doses de drama e conflito pessoal... Ou seja, pode ser a vida real de muitas de nós, com mil incertezas e inseguranças, planos, conflitos, dificuldades, alegrias.
"O que você sentiu quando aconteceu ainda está aí, só que você guardou lá no fundo e fingiu que não existia. Agora, tudo veio de novo à tona e fez parecer de novo aquela época. O momento mudou, mas o sentimento é o mesmo."
Alguns pontos me atraíram muito, como a maneira como a Lily lida com alguns sentimentos e as consequências disso (autocobrança, frustração, fuga); a abordagem do luto, que foi de uma delicadeza tremenda; a clareza com que a autora mostra como cada decisão que tomamos molda nosso futuro e impacta as pessoas a nossa volta (sim, parece óbvio, mas quantas vezes não damos de ombros porque "não é problema meu", "o universo quis assim", "foge a meu controle"...).
A maneira como a Lily procura terapia me sensibilizou bastante, pois foi como também "descobri" essa forma de tratamento, e eu tinha as mesmas crenças que ela. Talvez, se eu tivesse lido esse livro antes de começar a terapia, ele teria sido minha grande motivação para procurar essa assistência especializada.
Recomendo muito essa leitura e destaco o trabalho da editora... o texto está impecável (eu sou a pessoa que torce o nariz por encontrar erros de revisão) e a edição é linda, com uma capa que simboliza lindamente o romance.
A única ressalva que faço são os comentários sobre política, que não evoluem nem acrescentam à história, ficam só naquela cutucada perdida no meio do texto. O livro já tem várias pautas trabalhadas nos personagens, com sustentação dentro da história, a política poderia ter ficado de fora sem fazer falta.