raconteurr 24/07/2023
Quase lá...
Em geral, "Gideon, A Nona" é um livro que vale a pena conhecer. Mas já deixo o aviso de que não é uma leitura para iniciantes.
Para começar, quero elogiar os personagens. Todos são muito únicos e diferentes. O contraste de vê-los juntos é divertido, pois cada um tem uma perspectiva particular sobre o desenrolar das situações. Obviamente sou cadela de Harrow e Gideon, mas não deixarei de mencionar a dupla Palamedes e Camilla, que também carregaram o livro nas costas.
O universo é bastante complexo (e quando digo isso não é um eufemismo). Dá para ter dor de cabeça só de ler a explicação de como funcionam as nove casas e as magias necromânticas de cada uma. Muitas vezes, inclusive, fiquei mega perdida na leitura. Recomendo ter um caderninho de anotações ao lado para conseguir acompanhar tudo. É um livro com muita informação, muitos personagens, muitos detalhes e muitas extensões. Isso se torna um problema na hora de apresentar esse mundo novo ao leitor, porque, na minha opinião, tudo ficou muito confuso, sem um nó para amarrar as informações, e mal distribuído.
Admito que a escrita é um fator agravante para esse problema. As descrições foram tenebrosas para mim. A escolha de palavras, a forma como a narração transitava de uma situação para outra, tudo era muito rápido ou lento demais ? não havia um ritmo certo. Me perdi várias vezes nas cenas com diálogos quando havia dezenas de personagens em uma única conversa, cheias de interrupções com descrição e assuntos variados alternando o foco do diálogo o tempo todo. Como alguém que estuda escrita, sei que é muito difícil dominar cenas em que há vários personagens. É difícil distinguir suas vozes e fácil se perder do cerne da conversa.
Acho que lá pela metade do livro, quando passou a primeira parte mais lenta de apresentação e o mistério começou, eu achei que ia favoritar esse livro e dar uma nota bem mais alta. Porém, dos 70% adiante, percebi outro problema: excesso de plot twists. O maior problema de querer fazer um plot twist é quando se quer trazê-lo ao leitor do nada ? ou seja, quando não se pavimentou um caminho prévio para que ele aconteça e seja cabível. Muitas coisas aqui se desenrolaram de forma abrupta, e são tantas informações que é fácil se perder nos detalhes. Pode ser que, para a maioria dos leitores, a experiência tenha sido mais fácil; mas eu, particularmente, que queria entender cada detalhe do que estava acontecendo naquele mundo, nunca consegui conciliar e formar o quebra-cabeça inteiro. Isso pode ser uma falha minha, mas, pelo que vi de outras resenhas aqui, tiveram mais pessoas que também se sentiram perdidas do começo ao fim.
O final foi bem cansativo pra mim, especialmemte o penúltimo capítulo, que é cheio de cenas de ação repetitiva. Também achei o epílogo meio jogado, e a aparição de um personagem importante bem apressada. Não sei se gostei do final de Gideon e Harrow, mas não irei me aprofundar mais para não dar spoilers.
Essa é uma alta fantasia bastante desafiadora. Gosto disso nela, até porque sou adepta de fantasias complexas e já estou acostumada a lidar com o sistema de livros desse gênero. Porém, ela poderia ter sido melhor introduzida e desenvolvida. Talvez isso tornasse o livro mais lento, mas certamente o tornaria mais sólido. Tomo Mistborn, do Brandon S, que li recentemente, como exemplo de uma fantasia complexa e bem explicada.