regifreitas 07/08/2023
INFOCRACIA: DIGITALIZAÇÃO E A CRISE DA DEMOCRACIA (Infokratie - Digitalisierung und die Krise der Demokratie, 2021), de Byung-Chul Han; tradução Gabriel S. Philipson.
Atualmente o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han é um dos principais pensadores sobre os efeitos da cultura digital na sociedade contemporânea. Aqui, Han cunha o termo "Infocracia" para designar o tipo de governo que seria baseado no uso da informação como poder. Diferentemente da sociedade disciplinar, industrial, cuja exploração era baseada na força física e produtiva ("corpos dóceis", que podiam ser submetidos e manipulados = biopolítica), ao poder centrado no regime da informação o interesse está na manipulação da "psique" humana = psicopolítica.
Assim, nesse contexto já não existiriam mais verdades e certezas, pois a informação é volátil, manipulável. "Informações ultrapassam num piscar de olhos a verdade e esta não lhes pode alcançar. Está condenada ao fracasso, portanto, a tentativa de, com a verdade, querer lutar contra a infodemia [= propagação e proliferação viral de informações]. Esta é 'resistente à verdade'" (p.46). Sem o lastro da "verdade", a própria interação social e a democracia ficam comprometidas.
A enorme quantidade de dados que geramos diariamente serve para alimentar o "Big Data" e a inteligência artificial, que analisam e preveem nosso comportamento. Segundo Han: “O 'smartphone' é um aparato de gravação psicométrica que alimentamos com dados dia a dia, hora a hora até. Com ele, a personalidade de seu usuário pode ser computada com exatidão”(p. 38). Portanto, através desse pequeno aparelho, onipresente em nosso cotidiano, podem ser extraídas "informações que excedem aquilo que sabemos de nós mesmos" (p.38).
Aí reside o perigo, pois essas informações podem ser utilizadas e personalizadas para cada indivíduo. Se por um lado esses dados alimentam os estímulos consumistas, mais grave ainda é seu uso pelo marketing político. Este pode influenciar o comportamento dos eleitores, comprometendo, assim, os sistemas democráticos em qualquer parte do mundo.
Como outras obras do autor, esta, embora pequena, é densa em referências e reflexões, não sendo possível tratar, neste comentário, sobre todas as questões elencadas por ele. Por conseguinte, INFOCRACIA é uma obra de extrema relevância, pois apresenta uma análise incisiva e provocadora de como a cultura digital está interferindo e reconfigurando nossas relações sociais e subjetividades. Lamentavelmente, para fins escusos.