Patricia1319 09/04/2024
Recentemente passei por uma situação meio inusitada que me fez repensar bastante sobre minha vida, principalmente se tratando do uso de substâncias para se sentir feliz.
Passei boa parte da vida desejando o momento em que provaria álcool pela primeira vez, fiz parte de uma família que endeusava esse tipo de substância! Por muitos anos achei que o gosto era fantástico e tinha algo especial, quando dei o prineiro gole em uma cerveja (escondida) quase vomitei, lembro de procurar algo para enfiar na boca e aquele gosto extremamente amargo e azedo sumir do meu paladar.
Mas quando envelheci, passei a tomar outros tipos de bebidas alcoólicas (cerveja nunca, aquela única vez foi traumática), já que toda aquela ideia de que era fantástico ainda estava presa na minha mente como se fosse a maior verdade do mundo. Afinal, meu pai ficava mais falante quando bebia, ele dava risadas comigo e tínhamos longas conversas, aquilo não podia ser ruim.
Demorou pra eu perceber que na verdade, tudo não passa de uma grande ilusão que dura somente uma noite, ou até mesmo algumas horas. No outro dia, seu estômago dói, sua cabeça fica latejando e nenhuma comida é muito apetitosa.
Quando li esse livro pela primeira vez, fiquei olhando todo aquele abuso de substâncias que o Matt dizia consumir e pensando: ?cara ele parecia tão legal, a vida parecia tão feliz, eu não consigo entender o motivo desse abuso.?
Assim que terminei acredito que não refleti o suficiente, não absorvi com tanto poder o que ele queria dizer, acho que o único momento em que senti a força foi quando ele disse que esse era o único assunto pelo qual ele não conseguia fazer uma piada, logo ele, nosso Chandler.
É estranho como precisamos passar por situações similares para entendermos o peso de certas situações, agora olhando pra esse livro e pra tantas reflexões ?aquela coisa terrível? parece assustadoramente grande pra mim, eu finalmente tenho medo de algo que com certeza deve ser temido.
Lembro de cenas muito assustadoras da vida e do cotidiano que a bebida era a maior culpada da situação, lembro de olhos assustados, cheio de lágrimas, pedidos baixos de socorro. E mesmo assim eu nunca, nunca senti o peso.
A verdade é que até estarmos verdadeiramente machucados, não conseguimos sentir o motivo de algo que aparenta ser tão simples ser na verdade tão assustador.
Na época que li, Matt me deixou bastante reflexiva sobre a minha vida, sobre o que deve ser de fato valorizado, quando ele faleceu senti mais ainda o impacto de tudo que ele passou, no livro ele retrata sua imensa vontade de se reestabelecer e construir uma família, é estranho e ruim pensar que ?aquela coisa terrível? o venceu.
Depois do que aconteceu comigo, finalmente abri os olhos pra levar uma vida de completa sobriedade onde posso ser verdadeiramente feliz sem substâncias, onde um sorriso sincero é melhor e mais recompensador do que um sorriso forçado, daqueles que a gente quer disfarçar nosso nível baixo de sanidade.
A real, é que eu nunca gostei da sensação de entrar em um banheiro e ficar falando sozinha com as paredes.
Enfim, graças ao Matt, e aos acontecimentos da vida. Eu acredito mais do que fielmente que ?aquela coisa terrível? não vai ser capaz de me consumir.