spoiler visualizaranna v. 08/01/2024
Enredo instigante, execução fraca
Escolhi ler este livro porque gostei muito da série Pequenos incêndios em toda parte, que vi na TV, adaptação de outro livro da autora (que não li). Mas ele realmente não foi para mim.
Gostei do enredo: num futuro próximo, depois de uma grave crise econômica e política descrita apenas como "Crise", os EUA elegem um governo autoritário que coloca a China como grande culpada de todos os males, passa um pacote de leis chamado PACT, que basicamente dá plenos poderes ao governo para banir qualquer coisa que seja considerada "antiamericana", até mesmo sequestrar filhos que estejam "sob risco" de influência antiamericana pelos próprios pais!
Por isso, todos os chineses-americanos ou orientais de qualquer origem passam a ser vítimas de preconceito descarado e violento, numa descrição claramente baseada na situação dos judeus na Alemanha dos anos 1930. Ao mesmo tempo, a situação econômica do país melhora, portanto o apoio é quase total. Mas, claro há resistência.
O que não funcionou para mim foi o fio condutor da história. Um menino de 12 anos chamado Noah, apelidado de Bird, cuja mãe, Margaret Miu, era chinesa-americana e escreveu um livro de poemas que, por puro acaso, virou o lema da resistência ao PACT. Quando ele tinha 9 anos, sua mãe simplesmente sumiu, e ele vive com o pai, que trabalha numa biblioteca universitária em Cambridge, e é proibido de até mesmo falar sobre a mãe. Ele só tem uma amiga na escola, Sadie, uma menina que foi afastada dos pais pelo governo, e passou a viver com famílias adotivas. Mas Sadie também desaparece.
Bird encontra algumas pistas e vai sozinho numa jornada louca em busca da mãe. Na segunda parte ficamos sabendo a história de Margaret, de como ela passou ao mundo do ativismo depois que percebeu que seu filho seria tirado do convívio dos pais.
Eu achei todos esses personagens muito chatos: Bird, seu pai, Sadie, Margaret etc. Não consegui me importar com nenhum deles, na verdade.
Depois, a história dá uma guinada para a questão das crianças separadas das famílias, e uma estranhíssima rede clandestina de informações através de bibliotecas, e ficou ainda mais difícil para mim. E ainda surgiu uma amiga de Margaret que, convenientemente, era milionária e portanto solucionava um monte de problemas.
E o clímax da história é uma instalação artístico-política de Margaret, com tampinhas de garrafas espalhadas por NY que são na verdade alto-falantes... Não deu.
Estou lendo agora dois livros que dialogam muito com a situação descrita no livro: "Preconceito", de Leandro Karnal (que estou achando maçante, mas fala muito sobre xenofobia como bode expiatório) e "Misbelief", do Dan Ariely, sobre fake news e os processos mentais-cognitivos-emocionais que fazem com que pessoas inteligentes caiam na espiral da desinformação. E sobre a situação das crianças separadas das famílias, o último que li da Isabel Allende, "O vento sabe meu nome", aborda o tema em dois tempos históricos: com as crianças judias nos anos 1930 na Europa, e com os latinos hoje em dia na fronteira do México com os EUA. Achei muito mais interessantes do que este.