Lívia G.F 03/04/2024
Três é a vida de todos.
Crescer não é fácil, seja no sentido físico do ser humano ou no subjetivo da palavra. Se desapegar do que era seu, seja dos brinquedos, seja do seu corpo, nunca foi fácil. Se desapegar do que não o é palpável é mais difícil ainda. Em primeiro lugar, Três é sobre amizade, depois, Três é sobre crescimento. Desse modo, crescer não é fácil, mas se torna mais suportável na presença daqueles que nos compreendem, daqueles que chamamos de amigos.
Entender é um verbo praticável por muitos, compreender é diferente. Compreender é sentir o que o outro sente ao se explicar, é ver nos olhos do outro a dor que ele diz que nem dói tanto, é saber que qualquer dor dói e não menosprezar o sofrimento do próximo. Compreender é estudo vindo da prática, estudo demorado, que atinge a capacidade da familiaridade. Talvez por isso a amizade seja a relação mais bonita e pura que existe, pelo dom de compreender e de ser compreendido.
Em meio a dúvidas, mudanças e curiosidades trazidas pela infância e adolescência, ter um amigo passando pela mesma fase, é força para atravessar essas eras. Digo eras, pois são vividas com o desejo da vida adulta e da liberdade, e dessa forma se parecem eternas. Três é eterno, até que não era mais. Pela bela, leve e fluida escrita de Valérie Perrin, os amigos inseparáveis durante a época da escola se tornam estranhos, distantes na vida adulta. Corriqueiro, acontece com todo mundo, a vida é assim, mas por quê? Em meio a um corpo encontrado no lago, uma adulta misteriosa e ressentida que crescera com os Três e um coração fechado, Valérie Perrin explora as fraquezas das inseguranças que criamos para nós. Como criamos muros, deixamos de comparecer ao que sempre fora trivial, de atender as ligações daqueles que um dia foram tão importantes.
Crescer não é fácil, lidamos com nossos demônios, escondemos pequenos segredos, e a vida sempre bate à porta nos obrigando a amadurecer. A autora é sutil nos detalhes do crescimento, a fim de que no final seja tudo revelado. O livro se demora na primeira e segunda infância, mas a partir das páginas que tudo começa a fazer algum sentido é impossível largar.
Os capítulos são curtos, vão ao passado e ao presente, se confundem, se explicam, criam a curiosidade. Minha única crítica fica para a parte da Clotilde, vejo a necessidade, mas não há profundidade e eu, como leitora me senti indiferente aos fatos. No entanto, todo o restante é fabuloso. É sutileza da vida real, é o pequeno que não se dá atenção, é o acúmulo que nos atinge um dia. A todos.