Rosa282 10/06/2024
Babel: um chamado para a reflexão e ação
"Babel" pode ser categorizado como "dark academia", uma vertente da fantasia, devido à sua combinação de um ambiente acadêmico prestigiado (uma Universidade Oxford fictícia como Kuang expõe logo no início da obra), temas intelectuais e sombrios, e uma atmosfera carregada de mistério e tensão moral. A instituição fictícia Babel é o coração do Instituto Real de Tradução, onde a magia da prata é praticada e refinada. A magia é ativada através da tradução, onde as diferenças entre palavras em várias línguas liberam poder mágico. Aclamado pela crítica e por um número considerável de leitores em âmbito mundial, por sua originalidade e profundidade, Babel reúne fantasia enriquecida com dados históricos, críticas ao colonialismo e à exploração, também ao racismo e à manipulação. Constituindo uma obra literária que tanto entretém como impulsiona a uma reflexão crítica acerca do nosso mundo e nosso posicionamento diante da contemporaneidade, gerando desconforto a alguns, ao mesmo tempo em encoraja um posicionamento à tantos outros. Uma reflexão sobre o poder, a opressão e a resistência, que se expressa através de uma narrativa envolvente e personagens complexos. Ao longo do texto os leitores são desafiados a reconsiderar o papel da linguagem e do conhecimento na construção e manutenção do poder, mas também sua importância para o desenvolvimento de resistências. Por conectar o passado histórico com questões contemporâneas, torna-se uma leitura relevante e impactante nas discussões literárias, sobre a história e justiça social.
Para aqueles que perguntam “por quê?” e “para quê?” a resposta está na persistente dissonância dos discursos, mundo à fora, que continuam a desconsiderar a diversidade mundial, a exclusão causada pela exploração, a colonialidade das mentes, privilegiando uma minoria que enriquece e se mantém no poder. Enquanto a conscientização dos indivíduos sobre as condições materiais com as quais a humanidade tem que lidar, enquanto as propostas que evoquem a justiça social e econômica estiverem ainda no âmbito das ideias, se faz necessário que construções literárias, transmidiáticas, artísticas de toda ordem continuem a ser desenvolvidas.
Recomendo a leitura deste livro denso, provocativo, riquíssimo de discussões, de narrativa muito bem construída, onde a fantasia é um coadjuvante. A análise cultural fundamentada pelos Estudos Culturais e a Teoria Crítica da Sociedade devem ser utilizadas , pois favorecem uma compreensão ampla ao lado da ordem do discurso e da teoria literária. Aconselho, como educadora, a metodologia de leitura conjunta, que conferirá um brilho a mais às discussões evocadas nesta obra literária.
Alguns teóricos interessantes, que ao meu ver, podem fornecer um repertório de conhecimentos interessante para as análises e aproveitamento são:
Adorno e Horkheimer : “Dialética do esclarecimento”
Stuart Hall: “Cultura e representação”
Max Weber: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”
Volochinov: “Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem”
QUIJANO, Anival. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Revista Novos Rumos, 37, 2002, Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/novosrumos/article/view/2192/1812
MIGNOLO, Walter D. Colonialidade O lado mais escuro da modernidade. RBCS Vol. 32 n° 94 junho/2017. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/6961828/mod_folder/content/0/Walter%20Mignolo%20Colon ialidade%20.pdf
OLIVEIRA, Luiz Fernandes de; CANDAU Vera Maria Ferrão. Pedagogia decolonial e educação antirracista e intercultural no Brasil. Educação em Revista, Belo Horizonte, v.26, n.01, p.15-40, abr. 2010. Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/edur/v26n01/v26n01a02.pdf
Foucault, Michel. A ordem do discurso. São Paulo : Loyola, disponível em https://ia801902.us.archive.org/27/items/foucault-michel-ditos-escritos-v-etica-sexualidade-e politica/FOUCAULT%2C%20Michel%20-%20A%20Ordem%20do%20Discurso_text.pdf