Bruna 06/05/2024
Traduzir é um ato de traição
Esse é aquele tipo de livro que te prende do início ao fim e, muito além disso, te faz questionar o mundo ao nosso redor e pensar: Por que sempre ponderamos sobre o mundo de maneira independente e nunca como um todo?
Nessa configuração de mundo que Kuang cria de maneira brilhante, vemos como as linguagens podem ser objeto tanto de dominação quanto de libertação. Ela mostra com clareza que a linguagem é viva e se modifica assim como a história, e pode ser usada para subjugar povos, visto que se comunicar com o outro no idioma do interlocutor traz a sensação de familiaridade, o que na visão do colonialismo, é essencial para explorar nações e suas riquezas.
O trabalho feito neste livro relacionado a linguística é fantástico! Ela transita entre etimologia e sociolinguística de maneira tão fluida, que faz termos a sensação de que aprender a origem de todas as palavras e os significados perdidos e modificados ao longo das eras nem seja tão difícil assim.
O paralelo que a autora traça entre a Revolução Industrial e a Revolução da Prata é objetivo, claro e eficaz, nos mostrando como devemos sempre olhar pra nós mesmos e para o todo, ao passo que as nossas ações impactam na vida de nossos semelhantes.
Os personagens principais são bem delineados, com seus ideais e suas percepções de mundo. Victoire, Ramy, Robin e Letty são contrastes de visões de mundo entre si. Gostaria muito de ter lido mais sobre Griffin que é um personagem muito intrigante (um pouco obcecada por ele estou, acho kkkk)
É um livro que te deixa preso, pois a escrita dela é muito gostosa e, mesmo que seja um livro enorme, você lê 100 páginas sem perceber e quando percebe, já acabou o livro. E se prepare, pois a cabeça ficará a mil com tantos questionamentos.
É uma fantasia-histórica-dark academia, podemos categorizá-la em vários gêneros. Uma narrativa que nos dá esperança de que a história real, um dia, possa ser fluída e justa pra todos!