FremenJeff 10/04/2024
Funciona em partes, porém o fim é muito sem noção.
Babel ou Necessidade de Violência traz uma jornada que em tese é extremamente formidável, mesclando ficção e toques históricos, porém ele se perde pois introduz explicações intermináveis que quebra o seu ritmo.
A primeira parte do livro tem uma missão de ambientação do universo da promessa do vislumbre do que podemos ver referente ao poder ao ser alcançado para o protagonista. É extremamente bem construído e temos um charme de escrita inicial que chama atenção demonstrando um resgate do protagonista e uma figura salvadora misteriosa.
Tem um ritmo um pouco lento, porém entendo que é pela construção do universo. O que, como disse anteriormente, é uma das melhorias da autora. O livro possui muito embasamento na construção da revolução industrial, porém nesta primeira parte é apenas pincelado de uma forma introdutória, assim como todo o material da misteriosa instituição que Robin está entrando.
Desta forma, acredito que o ritmo introdutório pode criar cansaço, porém se você continuar ou se já passou pela Guerra da Papoula, você saberá que todo este ritmo inicial é totalmente em prol do que verá a seguir.
Já na segunda parte, temos mais detalhes do poder de ferro que as barras de ferros e até mesmo Babel possuem. Mesclando ficção e toques de realidade, igual feito com a Guerra de Papoula, aqui temos uma instituição que possui o poder inquisitivo de conhecimento que representa uma coisa: A evolução das máquinas.
Entretanto, quem conhece R.F Kuang, sabe que ela tende para o sobrenatural, e aqui o conceito é vívido e poético. Em Babel, existem o estudo de várias línguas, até mesmo as consideradas mortas onde é discutido e apresentado a ideia de conhecer a origem de palavras para poder acessar o poder verdadeiros que elas possuem, desta forma, quando se descobre a verdadeira origem de certa palavra e suas formas diversas de significado ao decorrer da linguagem humana pode-se comandar as barras de ferros para seguirem as ordens para quem possuir o poder inquisitivo para consegui-las.
Observamos sobre uma visão já conhecida historicamente (A Revolução Industrial) ligada diretamente a essas barras de ferros mágicas e assim a Grã-Bretanha no comando industrial e comercial enquanto a classe operária caminha para a revolta e pobreza descomunal.
Durante a primeira parte e a segunda, conhecemos uma sociedade secreta que luta para apagar o controle da Grã-Bretanha e assim roubando as barras de ferros e levando (em tese) para as áreas mais pobres do mundo onde é necessário o instrumento para assim fazerem a diferença.
O ?irmão? de Robin, Grifin, faz parte desta sociedade e recruta Robin para que ele faça parte, afinal, para entrar na faculdade, somente estudantes ligados a sangue podem abrir as portas do local. No início destas primeiras partes Robin faz isso e ao mesmo tempo se questiona sobre o que está fazendo de fato faz a diferença.
Até o momento, o que me incomoda nesta obra é todo este arco do Grifin, pois, se a proposta era demonstrar que quanto mais Robin adentra Babel ele vai vendo como a classe operária está sendo esmagada, não funciona. Se a proposta for criar um mistério em torno de Grifin, também não funciona. Em ambos os lados, tudo que Robin recebe é indiferença e desumanidade. Tanto os conceitos de importância em Babel como para seu irmão são extremamente ausentes de empatia.
Desta forma, as duas primeiras partes deixam o desenvolvimento aparente já estabelecido para ser trabalhado, afinal, a segunda parte deste livro até o momento é o que possui mais progressão de avanço temporal.
Acho que a terceira parte é a que constrói melhor o senso de urgência e preconceito racial que Kuang constrói desde A Guerra da Papoula, com um texto bem escrito e desagradável em vários pontos em demonstrar como o mercado é opressor principalmente com a questão da dependência de ópio e como a Grã-Bretanha ganha dinheiro em prol da destruição de uma sociedade totalmente dependente do vício.
É nesta parte que você consegue entender melhor alguns pontos que Griffin trouxe para Robin nas primeiras partes, porém são apenas alguns pontos mesmos, tá? Griffin ainda continua com um surto coletivo que ainda não entendo como Robin chegou a cogitar ser partidário por conta deste ?irmão? tão frio e sensível igual uma pedra.
O Plot de Victorie e Ramy fazem parte deste grupo em prol da revolução também foi meio que jogado de qualquer jeito apenas para criar impacto e fragilizar a relação entre Professor Lovell e Robin que acaba causando o final sangrento desta parte.
Gostei da mudança de ambiente da obra, entretanto, eu ainda acho a estrutura da obra sem direção, é formidável acompanhar a jornada de Robin, porém até agora é muito notório a ausência de uma figura vilanesca e sua estrutura clássica, sabe? Temos um senso de ameaça e a opressão da Grã-Bretanha esmagando o mundo, porém não existe uma figura humana no meio disto maquiavélico ou embates. O embate é a opressão e até isso meio que se arrasta dando seus primeiros passos bem lentos apenas nos últimos capítulos desta terceira parte.
Já a quarte e quinta parte é o que acontece as coisas e é no mínimo entusiasta imaginar que a solução é tão fácil e rasa para algo que foi desenvolvido durante páginas e mais páginas até que virou um monstro descomunal sem controle ou senso que algo poderia ameaçar de fato o crescimento da Grã-Bretanha, se algum leitor deste livro, disser que a ideia de simplesmente derrubar a torre de Babel e seu conhecimento é uma forma plausível e até mesmo completa de fazer o mercado parar de funcionar e ser abusivo, eu sinto muito dizer, mas você vive em um bolha.
Desta forma, Babel tem uma proposta formidável, porém é uma ideia muito mal aproveitada, pois, no lugar de construir uma trama ficcional, parece mais um livro de retalhos históricos que perde muito tempo desenvolvendo uma ameaça longe de que seja alcançada uma derrota para no fim construir uma conclusão fajuta e entusiasta demais para todo contexto opressor apresentado.