Carlabknho 27/11/2023
Aventura espacial porreta
Tenho pouca afinidade com obras de ficção científica. Em geral não prendem minha atenção, o ritmo lento, as vezes arrastado me desmotiva, os ?arrodeios? e surgimentos mirabolantes do nada, me entendiam.
Mas essa NARRATIVA ESPACIAL me arrebatou. Que livro senhores, que livros!
Pra começar o dinamismo da escrita, ritmo acelerado, me deixaram vidrada. Acrescente a isso uma escrita leve, mistérios e carregada de humor. Sim humor é um tempero arrebatador, que poucos sabem usar, tem uma medida certa e Ian Fraser consegue dosar com maestria. Adicione nessa receita personagens bem construídos (não apenas o protagonista, todos brilham), um universo bem detalhado, mas sem exagero (do tipo que o leitor se perde), muita cultura nordestina (Avôhai, O Auto da Compadecida, Viva o Povo Brasileiro, etc), referências nortistas, paisagem reais e fictícias se mesclando, dialeto baianês (tudo pra mim). Acrescente também uma grande dose de riqueza artística, detalhes minimalistas em cada páginas, cada capítulo apresentado em forma de cordel, trecho de músicas dançando entre os parágrafos (a entrada de Filó na narrativa com os versos de Reconvexo de Bethânia lindoooooo), ilustrações, a capa LINDA, muitas referências culturais/históricas, citações aos orixás, tudo isso fizeram a leitura virar uma experiência deliciosa. Assim é: A VIDA E AS MORTES DE SEVERINO OLHO DE DENDÊ (até o título é instigante).
Mas sem dúvidas, se tem uma característica que arrebatou meu coração foi a forma como a obra mescla o futurismo com ancestralidade. Genial. O ancestral é sempre lembrado, referenciado, enaltecido (como deveria ser também na vida real né?) e serve de base para os feitos e aparatos tecnológicos. Até o Severino carrega em si essa dualidade, um braço comum, outro mecânico, um olho normal, outro biônico que só ganha ?poder? ao usar uma erva ancestral, soldados robôs em forma de carranca como protetores (quem sabe o que é carranca entende de imediato).
Por falar em tecnologia a ideia de uma IA que capta o presente/ambiente/situação e apresenta ao ouvinte a música perfeita para o momento, me pegou, desejei demais, até me peguei pensando qual seria trilha pra certos momentos meus rs,rs,rs... (deixa me off). Me divertir, torci, fantasiei cenas, OFICÓRSSIMENTE imaginei o livro como uma adaptação para TV, Web, cinema, algo bem visual.
AH, já ia esquecendo, essa maravilha é finalista do prêmio Jabuti de 2023 e tô na torcida....
Salve os autores Baianos!