Alessa 05/06/2023
Um mistura do bom e do melhor, com alguns percalços na execução.
Encontrar uma ópera espacial nordestina é uma sorte que eu não imaginava que teria na minha vida de leitora. Misturar o Guia do Mochileiro das Galáxias, Star Wars e um bocado de o Auto da Compadecida podia ser um bom resumo da receita desse livro. Por amar ficção científica, livros nacionais e, principalmente, o meu Nordeste, sabia que essa seria a fórmula do sucesso pra uma história que ia me arrebatar. E foi um pouco assim, mas não tanto.
Primeiro preciso enaltecer a edição impecável da Intrínseca, que entregou uma obra de arte em forma de livro, a edição está belíssima por dentro e por fora, chega dá gosto de ter na estante. E claro, fica aqui também um grande elogio ao autor, por essa ideia incrível e tão especial.
Acho que essa é a grande questão, é uma boa ideia, mas sinto que tiveram algumas dificuldades na execução. A história tem uma ambientação incrível, dá pra imaginar um mundo cyberpunk, mas com uma carinha Soteropolitana. Inclusive, o livro começa com uma abertura digna de grandes histórias espaciais, ele vem apresentando personagens carismáticos (Bonfim, entenda, você é perfeito!) e nos inserindo num mundo complexo e grandioso.
Depois dos primeiros capítulos a história perde um pouco o ritmo, sinto que faltou um pouco de tridimensionalidade pros personagens e até mesmo um maior desenvolvimento dessa estrutura social tão interessante. Tudo isso podia ser resumido em: acho que esse livro poderia ser maior.
Poderia ter mais cenas do passado de Severino, poderia ser mais trabalhado questões sobre as Paladinas do Sertão, os Urubutingas e até mesmo os próprios Carcarás. Tudo isso faria a gente entender melhor das dores e propósitos de Antonieta e Filomena, por exemplo. Uma frase que sempre ouvi é: Não fale, mostre. Acho que esse livro fala muito o que as coisas são e não mostra tanto quanto o leitor gostaria.
A história ao mesmo tempo que parece leve, em alguns momentos até “bobinha”, na resolução dos problemas que surgem durante a aventura, quase com um desenrolar de narrativas infantis, por outro lado apresenta temas pesados e um linguajar adulto, o que me deixou um pouco confusa e não soube muito bem como me sentir.
Falando na resolução de problemas, sem spoilers, me incomodou demais que a maioria das dificuldades que surgiram pros heróis foram resolvidos quase sempre da mesma maneira. Quando surgia uma determinada dificuldade, eu já esperava que no parágrafo seguinte a solução X iria aparecer. E aparecia.
E por fim, uma coisa que me atrapalhou em me aprofundar na história é a quebra que cada capítulo tem com um cordel. Não me entenda a mal, a ideia do cordel é incrível! Mas como ele fala sobre o próprio processo de escrita do livro (Ex: “Narrador é bicho mentiroso, / e nem tudo deves acreditar. / Ele vai fazer tudo o que pode / para seu leitor ludibriar”), isso acabava me tirando dessa imersão e eu lembrava que estava lendo. A a presença deles sendo realizada de outra maneira, na minha opinião, seria mais eficiente.
É um livro leve, cheio de representatividade e eu amei me sentir parte de uma ópera espacial. Ter uma capivara humanoide e um alienígena cheio de fitinha do senhor do Bonfim com certeza foram um dos meus pontos favoritos. Os diálogos são engraçadíssimos, em muitos momentos me peguei rindo e adorando as referências. Eu me diverti, mas queria ver mais. Tenho certeza de que isso é só o começo de uma jornada incrível que o autor vai trilhar e quero deixá-lo no meu radar para os seus próximos livros.