Natalia.Tamaio 11/08/2023
"Num sei, só sei que foi assim!"
Ler Auto da Compadecida é tudo que alguém que viu o filme pode imaginar: é reconhecer as falas da obra cinematográfica, é pensar que uma história tão antiga (de 1955!) permanece tão atual, e é também rir um pouco durante a leitura lembrando da atuação inenarrável de Matheus Nachtergaele e Selton Mello.
O livro traz a peça escrita por Ariano Suassuna na qual dois nordestinos, João Grilo e Chicó, querem ajudar seus patrões a benzerem o cachorro da família e, numa trama em que se veem fugindo de um cangaceiro, João Grilo morre e vai ter com o julgamento final, no qual pede a ajuda de sua santa Compadecida. Realmente foi uma delícia ler a história e lembrar os diálogos do filme, tão marcantes e que tornam essa história uma das minhas preferidas da vida - sem dúvida um dos melhores filmes nacionais que assisti, e um show de atuação!
Amei ler e conhecer a obra de Ariano Suassuna mais de perto, bem como tive orgulho de saber que todos os diálogos e retratação da cultura foram bem fiéis às ?lendas? e histórias que circulavam pelo Nordeste na época: por isso, mais do que um simples enredo, Auto da Compadecida é uma manifestação cultural de reconhecimento às tradições e religiosidade do nosso povo nordestino.
A história passa também um olhar bastante empático e justo, particularmente o olhar que busco ter, sobre um povo que sofre as mazelas de viver numa região pobre do Brasil, muitas vezes sem acesso à comida e em condições de vida precárias, e é justamente isso que a Compadecida usa para defender os pecados dos diversos mortos que acompanham João Grilo na audiência final pós-morte.
FRASES:
?É preciso levar em conta a pobre e triste condição do homem. A carne implica todas essas coisas turvas e mesquinhas. Quase tudo o que eles faziam era por medo. Eu conheço isso, porque convivi com os homens: começam com medo, coitados, e terminam por fazer o que não presta, quase sem querer. É medo? (Compadecida)
?Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo que é vivo morre.? (Chicó)