Monique | @moniqueeoslivros 16/05/2022
Menino de Engenho
{Leitura 22/2022 - ?? Brasil}
Menino de Engenho - José Lins do Rego
Esse é um clássico da nossa Literatura, que fala sobre infância. Carlos conta suas aventuras a partir dos quatro anos de idade, quando ele sai de Recife e vai morar no engenho de cana-de-açúcar do seu avô.
Mas não espere um livro "fofinho". O menino fica órfão aos quatro anos, quando o próprio pai mata a mãe e em seguida é preso numa instituição psiquiátrica. E por isso Carlos deixa a cidade e todo o seu convívio para morar no interior, onde seu avô materno é o Senhor do Engenho.
Há nesse livro muitas críticas sociais, mas que são vistas pelo olhar de uma criança. E é através dos símbolos usados por ele que a gente se dá conta, pouco a pouco, de como a vida das pessoas que giram ao redor da casa grande funciona.
É através desse olhar de criança que a gente compreende os traumas e medos do próprio menino, e que a gente vê a engrenagem do ciclo da cana no Brasil. A escravidão, a pobreza, as terras e poderes dos senhores de engenho, enfim, é tudo escancarado e, ao mesmo tempo, passado pelo filtro do pensamento infantil. Mas de uma criança com privilégios.
E algo muito pertinente (inclusive está na apresentação de João Cezar de Castro Rocha, nessa edição da global): essa desigualdade social é entregue ao leitor até mesmo na escolha de palavras. As crianças filhas dos trabalhadores, e filhos de escravizados, todos são os "moleques". É assim que Carlos os cita no decorrer de toda a história. Entretando, ele e seus primos, também crianças, ah, eles não são moleques. Eles são "meninos".
Deste momento em diante, até o título do livro nos significa mais do que aparenta. Afinal, ele, Carlinhos, não é moleque. Ele é Menino de Engenho.