spoiler visualizarLuan.Gabriel 20/09/2022
Um grande livro ainda que curto
É um livro que toca fundo no coração, desde que ouvi o Afonso Padilha contar sua sinopse em um podcast não consegui deixar de pensar que o enredo era fantástico, e apesar da promessa de não comprar nenhum livro pois a estante está cheia, esse furou a fila de todos que aguardam sua vez.
Começo destacando que é curioso o fato dos capítulos serem contados com as letras do alfabeto. A historia já começa com uma grande riqueza de adjetivos, o típico livro que nos faz aumentar o vocabulário como por exemplo, saber que o aroma agradável da natureza pode ser descrito como bálsamo.
Ao se deparar com uma criança chorando, são inúmeras coisas a se levar em consideração desde ajudar a se por no local da mãe ao ver seu filho falar com um estranho, infelizmente há uma imensa maldade no mundo mas felizmente, Kafka é um bom samaritano, mais do que bom, esforçado e toma para si a missão de cessar as lagrimas utilizando as armas que tem, no caso, ele que é escritor coloca seu livro de lado para escrever as cartas de uma boneca perdida, a razão do choro da garotinha que é consolada por ser apresentada a ideia que ao invés de se perder sua boneca esta viajando o mundo. Nosso nobre escritor tem de fazer um trabalho de pesquisa para entender o que um boneca pensaria e diria, eu pensava na Eloá, filha de um grande amigo que sempre propõe seus jogos e define regras claras, como proibições sobre imitar o outro, resultando até mesmo em castigo. O esforço de acompanhar uma imaginação mais fértil é sempre recompensado por uma gargalhada ou um beijo na bochecha, não há recompensa maior.
Em suas viagens a boneca conhece inúmeras cidades em diferentes países, me veio a mente Júlio Verne e o próprio autor, como se tivéssemos a ideia juntos. O apego ao detalhes sempre fez e faz toda a diferença, aquela carta escrita a mão, o cuidado com os selos, quando damos um presente artesanal o que estamos oferecendo a pessoa é também nosso tempo e dedicação, afinal é isso que podemos oferecer a rosa do pequeno príncipe ou como diz Humberto Gessinger em uma das suas canções, "O meu tempo é todo teu ,é tudo que eu posso oferecer, é pouco mas é tudo que eu posso oferecer.
Kafka, cria a ficção das cartas para poupar a pequena Elsi da tristeza e acredita que está preservando nela a esperança, com as cartas diárias é criado um ritual onde eles sempre se encontram no parque da forma mais pontual que uma criança que tenta acompanhar os ponteiros do relógio consegue, é curioso quando ela se atrasa e nos poucos minutos se passam mil coisas pela cabeça, se ela ficou doente, se ela perdeu o interesse, e ele conta a cada cinco minutos como se fosse uma eternidade, até que com 20 minutos ela finalmente aparece, e fica claro que as cartas não são apenas para ela, ele também precisa de sua esperança renovada, quem sabe, proposito e o conceito de grandiosidade redefinido, mais importante que um conto ou romance eram aquelas cartas com um única ouvinte.
O final? Vale a pena conhecer.
Falar de Kafka, que era um escritor me inspira, assim como o livro que comprei junto a vida e obra de Terêncio Horto, um poeta tentando viver dos frutos do seu trabalho.
Me arrancou preciosas lágrimas.