Brenoarf 19/02/2024
Concepção via renúncia
A história da ascensão social do negro brasileiro sempre foi determinada por um “ideal”, sendo este descrito pelos padrões brancos de relações cidadãs. Mais do que uma submissão ideológica em vias de estoque racial na presença de outro que se lhe faz hegemônico, trata-se, aqui, das identidades renunciadas. Neusa concebeu, nessa análise, um estímulo notável às reflexões acerca das circunstâncias as quais endossam a compreensão da própria identidade negra, bem como dos seus constructos socioeconômico e político. Leitura visceral e, lastimavelmente, representativa, embora necessária a todos que visam uma presença no mundo mais genuína e conectada às verdadeiras raízes. É chocante que a obra, tendo sido escrita em 1990, preserve sua atualidade, sobretudo em se tratando dos vieses psicológicos, especialmente sob a ótica da psicanálise. Enfim, com muito brilhantismo e didaticidade, a autora trata da dolosora busca pelo Ideal do Ego, ou seja, encontrar-se o mais próximo possível da branquitude; e os custos psíquicos desse processo para o negro que almeja a ascenção social. Considero, ao menos em mim, que Neusa plantou mais uma semente de esperança por um Brasil menos desigual e mais autêntico por via de uma renúncia à branquitude e suas facetas destrutivas.