Henrico.Iturriet 02/01/2023
Essencial para a nossa construção
Neusa Santos de Souza traz nessa análise de relatos sobre a vida negra uma quantidade expressiva de conceitos e dados sobre a saúde mental da nossa população. Utilizando do método das ciências sociais e da psicanálise, ela forma um arcabouço vasto de iniciativas que buscam compreender os diferentes processos que ocorrem com o corpo, a mente, o consciente e o inconsciente da pessoa negra.
Além de ser um livro com um repertório teórico e de fácil leitura, traz consigo um significado: a necessidade de expor que o racismo internalizado, que hoje entendemos assim, está presente dentro de cada corpo que se pretende se entender negro.
O racismo é a marca de identificação negativa que baseamos o nosso ideal de identidade, ou seja, nos identificamos com o branco, com os valores da civilização ocidental colonialista, queremos ser o opressor e acabamos por ser-lo apenas em parte. Nunca conseguimos nos tornar branco como queremos. Sempre somos diferenciados.
É interessante pensar que outros livros se complementam muito com a análise de Souza, principalmente quando vamos interpretar as milhares de necessidade de mobilização política que não ocorrem no Brasil. A obra levanta a questão ?Identidade é um problema social??. Acredito eu que pra população negra sim, porque envolve, invariavelmente, o social.
Portanto, se entender como negro num país como o Brasil é passar por dificuldades que a autodeclaração não mostra, recobrar as matrizes afrodiaspóricas da cultura, de entender o apagamento da identidade em causas de ascensão social, de se compreender e tornar-se negro, tudo isso tem a ver comigo, tanto como tem a ver com a branquitude se reconhecer como perpetradora de um jogo de privilégios e dominância de que não largam a mão.
Tornar-se negro tem a ver com as consequências de se entender politicamente, coletivamente, em formar um grupo com identidade marcada. É se posicionar numa instância real novamente, para buscarmos um ideal de eu que seja concreto, real, não apenas delimitado pela dor e pela ferida aberta que o racismo deixa em nós desde criança.
Um dos livros mais importantes que li até hoje!