Leonardo 07/12/2020
É um livro que te dá uma visão mais abrangente de mundo
Quando fui pesquisar um pouco sobre a obra Filho do Fogo, achei muitas opiniões favoráveis, e algumas bem desfavoráveis. Quem falou mal chegou até, inclusive, a dizer que esta não era uma obra de Deus, e sim, algo que poderia até te levar para o caminho do satanismo. Eu já conhecia Daniel Mastral por meio de seus vídeos. Na primeira vez que vi ele na TV, em uma entrevista, estranhei o enfoque exagerado no demônio. Eu não estava acostumado com essa abordagem. Na dúvida, então, resolvi ler a obra e tirar minhas próprias conclusões.
E eu gostei muito, me deu uma outra visão de mundo secular e ampliou a minha percepção da realidade do mundo espiritual. Fiquei a par das regras que regem o mundo espiritual. Na verdade, o mundo espiritual e o mundo terreno se comunicam muito nesta obra. Esta obra serviu de elo entre esses dois mundos. É necessário ler toda a narrativa para se ter uma visão correta do conjunto da obra.
O livro é um testemunho que possui o antes, o durante e o depois da conversão; ou seja, ele não é nada diferente do que vimos em qualquer outro testemunho de uma igreja. Bom, na verdade, há uma diferença: um testemunho pode durar até um minuto em uma igreja, enquanto que na obra de Daniel Mastral, o seu testemunho dura várias e várias horas (a história tem um total de 2307 páginas).
Nos dois primeiros livros, quando conhecemos um Daniel imerso nas trevas, ler esta parte por tanto tempo pode causar um mal estar, mas deve-se ter em mente sempre que este é um testemunho que abarca toda uma vida antes de Cristo. Esta parte (embora volumosa) não abrange nem um terço do livro.
No volume 1 temos aquilo que é conhecido como romance de formação: sabemos como foi o nascimento e o desenvolvimento de Daniel Mastral. Saber isso em detalhes é importante para se compreender toda a posterior trajetória do personagem, o porquê de suas decisões.
No volume 2 temos a imersão de Daniel Mastral no satanismo. O autor deixa claro que faltam detalhes na narrativa do livro para que alguém possa extrair desse enredo alguma orientação de como ter um contato com o diabo. Além disso, não basta, de acordo com o autor, querer ter um contato: é necessário haver uma aliança (ser correspondido por satanás), e isso não é para quem quer, e sim, para quem pode. Ou seja, o autor desestimula que incautos tenham qualquer fantasia de buscar ter algo por meio de seus livros ou por meio de literaturas que não são as literaturas que realmente irão promover esta aliança (estes livros não estão ao alcance do público leigo, e sim, dos autênticos satanistas).
Daniel nos alerta que o que mais há são simpatizantes do diabo, e não satanistas. Os simpatizantes não têm aliança com o demônio, já os satanistas, sim. Este segundo livro realmente é pesado, pois revela toda a psicologia por trás do satanismo. Tal psicologia consiste em relativizar a verdade (fazendo o bem parecer mal, e vice-versa), tal psicologia tem a capacidade de instigar o desejo de poder que dormita em cada um de nós. Mas, atravessar esse vale de sombras faz parte da caminhada.
“O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmo 23).
Talvez para uns, entre um capítulo e outro, tenha faltado esta luz como consolo e guia.
Mas o final do livro dois termina com uma exortação muito linda de Daniel. Temos ali um Daniel liberto, um Daniel que enxerga muito claramente o engano ao qual ele esteve preso por tantos anos. Com as correntes partidas, Daniel louva toda a grandeza de Deus. Ele coloca o criador como o centro de sua vida, o reconhece como pai amoroso e como verdade que liberta. Para aqueles que ainda tivessem alguma dúvida, aqui, neste momento, temos um livro indiscutivelmente cristão. Temos aqui um divisor de águas na narrativa.
No terceiro livro temos o processo de consolidação da libertação de Daniel Mastral. Foi um processo muito longo e sofrido, pois seu envolvimento com as trevas foi muito profundo. Neste livro começa a história dele com Isabela (namorada e futura esposa). Nesta fase da narrativa eles sofrem retaliações e perseguições por parte da Irmandade satânica (grupo ao qual ele pertencia). Por meio de intercessoras (Grace e dona Clara, além de Isabela) ele busca consolidar a sua libertação.
Uma nova etapa da série ocorre quando Daniel busca restaurar a igreja de Cristo. Ali ele encontrou mais inimigos do que amigos. O diabo usa os próprios cristãos como lança para ferir Daniel. A igreja de Cristo está doente. O amor esfriou. A vaidade e a desonestidade imperam. É um trabalho hercúleo mudar esse cenário.
Restaurar a igreja de Cristo tem sido um desafio maior do que escapar da perseguição de seus ex-companheiros de irmandade satânica.
A igreja de Cristo está árida, não busca fomentar o amor. A igreja busca dizer aquilo que as pessoas querem ouvir. Buscam vender “atos proféticos” que não vêm de Deus, mas sim da mente humana. A igreja vende apenas bravatas contra o inimigo, palavra morta. Neste contexto, não há um autêntico louvor, mas sim pirotecnia gospel. A igreja quer o lucro, ela é, nos dias de hoje, os vendilhões do templo da época de Jesus.
E, neste contexto, Daniel faz o papel que muitos julgam desagradável: denuncia as chagas da noiva de Cristo. Com os profetas também foi assim. Quem hoje quer ouvir a verdade? O preço por dizer a verdade foi a solidão, a incompreensão.
Se Jesus estivesse entre nós hoje ele seria ouvido? A exemplo do passado, hoje Cristo teria que ir contra todo um sistema religioso composto por fariseus do século 21.
Como falei, ao longo da trama ficamos a par de algumas leis do mundo espiritual. Uma delas é a lei da legalidade. Legalidade é dar brecha, mediante nossos pecados, para que o inimigo nos atinja. Se estamos fortalecidos na fé, sem mácula alguma, o demônio só pode nos tocar se Deus permitir (foi o que ocorreu com Jó).
Vivemos entre dois mundos: o mundo espiritual e o mundo terreno. A carne tem a sua fraqueza. Temos que nos fortalecer na palavra, no jejum e na oração. Pode parecer o contrário, mas não somos seres deste mundo. A nossa realidade é outra. Somos seres cuja morada é junto ao pai, junto a Deus.
Ao longo da trama aprendemos que Daniel e Isabela, a exemplo de outros heróis da fé, têm suas virtudes e defeitos. Eles são humanos, demasiadamente humanos. Suas forças vêm da fé em Deus. Eles permaneceram fiéis à Igreja por amor a Deus, pois se fossem buscar motivação nas pessoas, há muito tempo que teriam desistido.
O coração do homem é inconstante e corruptível de todas as formas. Por acaso haverá ainda fé na Terra quando o filho do homem retornar?
Para finalizar, afirmo que a palavra de Deus é uma só, mas são vários os meios que ele se utiliza para ser ouvido. Muitos podem achar a escrita de Daniel um tanto obscura, mas é necessário, reitero, ler o conjunto da obra. Para muitos, esse caminho não é o melhor. Entendo e respeito tal posicionamento. Para outros, ele é extremamente válido. Eu achei a obra extremamente edificante para minha vida.