bibisreadings 27/05/2024
Já que sou, o jeito é ser.
"Mas eu tenho plena consciência dela: através dessa jovem dou o meu grito de horror à vida. À vida que tanto amo."
Clarice, ao conversar com o leitor (e consigo mesma) descreve a história de uma mocinha alagoana, datilógrafa e que só come cachorro-quente. Macabéa cresceu sem rede de apoio e sem ser devidamente ensinada sobre o que é certo, errado, o que deve e o que não deve aceitar. É visível que isso a impactou, pois se sente sempre sozinha, triste, perdida e com a sensação de não se encaixar em lugar nenhum. Seria um auto retrato de Clarice, que foi criada pelas irmãs? Eu não sei, mas fica o questionamento.
As descrições são tão profundas que eu esqueci que lia uma história, parecia um diário. Mas seguindo, acompanhamos Maca em um mundo injusto, vivendo as dores de ser mulher no Brasil. Senti vontade o tempo todo de abraçá-la e dizer que está tudo bem, que eu entendo e que tudo bem se sentir assim. Ela foi ensinada de que não possui utilidade para os outros, e que é assim porque é. Me doeu ler isso, mas é mais comum do que imaginamos. Creio que há muitas Macabéas por aí esperando para serem livres, da sociedade, das imposições, de si mesmas.
É um livro complexo com uma protagonista mais complexa ainda, mas é excepcional. Você não entende a maior parte das páginas, mas sente todas elas. É uma experiência e tanto e recomendo fortemente!
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