Vania.Cristina 29/01/2024
Ode à resiliência, à determinação e à solidariedade
Que livro impressionante! No começo achei muito descritivo e estranhei a narrativa diferentona, mas ele foi me ganhando cada vez mais, e não vai sair nunca da minha cabeça.
Trata-se da história da família Joad, pequenos agricultores que viviam em Oklahoma nos anos 30, tempos históricos da grande depressão norte-americana. Primeiro somos apresentados ao jovem Tom Joad que acaba de sair da prisão e está em liberdade condicional, retornando para a casa dos pais. Ao chegar, não encontra o cenário que esperava. Sua fazenda está abandonada. Um fenômeno climático trouxe seca e poeira para a região, dificultando as lavouras. Os bancos, verdadeiros donos das terras, expulsaram centenas de famílias para substuí-las por tratores, mais baratos
A família Joad está prestes a subir num caminhão velho com todos os pertences e seguir rumo à Califórnia, terra que promete trabalho e fartura. Da mesma forma que milhares de outras pessoas que também perderam suas terras, (terra que seus antepassados tinham tomado dos índios). Tom, mesmo sem autorização para sair do Estado, junta-se a sua família. Eles precisam estar unidos agora, contando com os esforços de todos, se quiserem sobreviver a essa jornada: Tom, seu pai, sua mãe, seu avô e sua avó, seu irmão mais velho (Noah)seu irmão de 16 anos que entendia de carros e motores (Al), seu tio viúvo (John), seus irmãos de 12 e 10 anos, (Ruthie e Winfield), sua irmã grávida (Rosa) e o marido (Connie). Junto também vai o ex reverendo Jim Casey. O caminho do êxodo é pela Rota 66.
Toda a família num único e velho caminhão entulhado. A casa, a terra, o passado... tudo é deixado para trás, e o centro vital da família passa a ser aquele caminhão. Dele tudo depende.
O livro intercala a jornada da família Joad com capítulos que procuram uma visão mais abrangente e jornalística. São praticamente pequenos ensaios que procuram falar das pessoas mas também dos contextos sociais, políticos, históricos e econômicos que estavam vivendo.
A crise no sistema capitalista, pós queda da bolsa em 1929, provocou mudanças radicais que afetaram a vida de milhares de pessoas. Se antes tínhamos um núcleo familiar rural, pratiarcal, baseado no trabalho árduo de todos com a terra, onde cada um tinha seu papel, agora as mudanças foram bruscas e desestruturantes.
É preciso uma enorme capacidade de resiliência para sobreviver às novas e extremas adversidades que a família Joad vai encontrar. As mudanças levam as mulheres, em especial a mãe de Tom, a assumir o protagonismo da família.
Não é possível encontrar lógica e sentido na situação, mas é profundamente sentida a necessidade de luta e justiça. No entanto, acima de tudo está a urgência em garantir a sobrevivência da coletividade.Toda a obra faz um apelo gritante pela empatia e pela solidariedade.
Há um sentimento de grandiosidade, de épico, em toda a jornada, e paralelos com textos bíblicos: o êxodo dos judeus no deserto em busca da terra prometida, as vinhas da ira de Deus citada no Apocalipse... A natureza também se revela com tons épicos e extremos: o fenômeno das tempestades de areia, a seca, o calor, as enchentes...
O próprio ciclo da vida tem o simbólico capítulo da tartaruga dedicado só a ele, um ode à resiliência, ao esforço árduo, ao seguir em frente, em movimento, não importa para onde. Quando estamos em movimento, espalhamos sementes. E elas brotam. A gente pode não estar por perto para assistir, mas elas silenciosamente brotam.