Ce10 19/05/2024
Como o olho do tornado.
"Mas eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza de nada. Como eu poderia saber se algum dia ? na faculdade, na Europa, em algum lugar, em qualquer lugar ? a redoma de vidro, com suas distorções sufocantes, não se fecharia novamente?"
É bem estranha a forma como eu me senti lendo esse livro. Além da sensação constante de que estava sendo enganada porque baixei ePub e alguns trechos tinham sido traduzidos ou transcritos de maneira equivocada.
Por vezes eu me achava desconectada da leitura - não da história, mas da própria prática de ler, assim como a Esther se percebia sobre o trabalho, as pessoas, os livros e absolutamente tudo que parece tão ordinário para qualquer um. Essa apatia paralisada, estática, essa redoma.
Se, em certos momentos eu me lia nessa mulher e me fascinava com a descrição tão realista dos meus sentimentos e dos dela, em outros, eu precisava me afastar, dar um passo para trás, para não ser seduzida e sufocada pela melancolia impregnada em cada página. Tenho que confessar que me perturbou um pouquinho, porque, de alguma maneira, verbalizou a obscuridade da alma humana, o lado escuro da lua, o que nós não queremos mostrar nem pensar por muito tempo. Basta. Então eu respirava e evitava por alguns dias. E depois continuava.
Como não se identificar em alguma medida com Esther Greenwood? Como não se sentir abalada com essa obra? Talvez seja impossível atravessá-la sem sofrer uma transformação forçada e brutal. Ou talvez só seja a fase.