Suemi.Oliveira 17/02/2021Incidente em Antares - Érico VeríssimoPublicado em 1971, o livro ?Incidente em Antares? é dividido em duas partes, sendo a primeira dedicada à contextualização do período histórico brasileiro ? Era Vargas ?, à explicação de como teria surgido a cidade fictícia de Antares/RS, na qual se passa toda a narrativa, e à apresentação das famílias Campolargo e Vacariano, cuja rivalidade atravessou diversas gerações. A segunda parte, por sua vez, é dedicada ao Incidente propriamente dito, que ocorre pouco antes do início da ditadura militar.
Ambas as famílias são coronelistas e latifundiárias. Os Vacariano são conservadores, ao passo que os Campolargo se intitulam progressistas, no entanto, ambas são elitistas e contra o progresso do proletariado. A rivalidade com o tempo chega ao fim, e ainda que com pensamentos divergentes, nasce uma amizade entre Tibério Vacariano, Zózimo Campolargo e suas respectivas esposas.
O desenvolvimento da trama é marcado pelas relações político-sociais que objetivam atender aos interesses individuais dos poderosos de Antares, sem jamais se preocupar com a coletividade. E é em 11 de dezembro de 1963, com o anúncio da greve geral de trabalhadores pertencentes aos mais diversos setores que ocorre uma interessante reviravolta: 7 moradores da pequena cidade falecem; sete indivíduos de classes sociais distintas, indo desde o bêbado Pudim de Cachaça até a matriarca da família Campolargo.
Já mortos, os 7 antarenses descobrem um único interesse em comum ? e tratam de se planejar e agir para ver seu objetivo ser concretizado. Para isso, não são medidos esforços: são levados a público os nomes de todos os envolvidos em corrupção e outros crimes arquitetados para o favorecimento de certos grupos da cidade gaúcha; os frágeis alicerces de diversas famílias são expostos, profissionais têm suas condutas altamente antiéticas escancaradas para todo o povo ? e não para por aí.
Porém, o que a população de Antares faz com as relevantes informações fornecidas pelos defuntos foi o que mais me surpreendeu. Assim como outros títulos da nossa literatura nacional, este clássico pode ser classificado como atemporal e deveras realista, embora se trate de ficção. Érico Veríssimo usa um pequeno povoado para descrever toda uma nação que, ao que tudo indica, parece não aprender com os erros, mesmo quando são escancarados em praça pública, e segue empurrando o que não é conveniente para baixo do manto da hipocrisia.